Começar de novo
A primeira partida
Vamos espreitar pela fechadura de uma porta.
É a porta de um quarto.
O quarto está iluminado apenas por um acidental laivo de luz que timidamente surge por entre uma pequena falha nos estores completamente cerrados.
Na penumbra há um drama ainda adormecido.
22h e 22m marca um relógio de pulso, num pulso que ainda dorme.
Há roupas espalhadas pelo chão.
CDs espalhados por cima das roupas.
Há muitas velas já apagadas aleatoriamente distribuídas pelo quarto.
Há 1 garrafa vazia.
2 copos.
Um ainda de pé encostado à mesa-de-cabeceira, outro caído sobre o tapete verde agora manchado de um vermelho muito escuro. Vermelho tinto de vinho ou de sangue.
Uma capa de Cd ainda com vestígios de cocaína.
Branca.
Neve.
Branca de neve.
Parece uma história infantil.
Pura.
Parece e é.
É uma história de pura ingenuidade.
Uma capa de Cd com vestígios de procura vã.
Inspiracion-Espiracion de Gotan Project
Uma nota enrolada.
Um cartão do ginásio.
Um homem nu dormindo abraçado a uma almofada.
Parece uma criança.
Parece uma criança dormindo com medo do sono.
Parece uma criança assustada.
Parece uma criança procurando na almofada o conforto que o sono não dá.
Parece um homem com medo de acordar e perceber que já não é criança.
A imagem faz antever o drama.
O quarto tem duas portas.
Uma dá para o corredor, outra para a cozinha.
Ambas estão fechadas.
O quarto tem duas janelas.
Uma dá para as traseiras.
A outra para um pequeno pátio lateral, agora albergue de gatas vadias que ali vão ter as crias e ali ficam até estas se tornarem gatas independentes e como suas mães irem tambem vadiar. Buscando o que de bom a vida de vadiagem tem para dar: a liberdade! A fome e o frio são compensados pela liberdade em pleno. Livres são todos os gatos mas nenhum é tão livre como o gato vadio.
Ambas as janelas estão fechadas.
O quarto tem 2 cortinas, uma em cada uma das duas janelas.
Na janela das traseiras uma cortina coberta de círculos em tons de verde, laranja e preto, na janela que dá para o pátio uma cortina lisa cor de laranja.
Há uma mistura de intensos cheiros, que condensados naquele pequeno espaço fechado tornam o ar quase irrespirável.
Cheira a perfume.
Cheira a incenso.
Cheira a cera derretida.
Cheira a vinho tinto.
Cheira a suor.
Cheira a prazer.
Cheira a lágrimas.
Cheira a gritos.
Cheira a sexo.
Cheira a desilusão.
Cheira a dor.
Cheira a raiva.
Cheira a morte.
O cheiro faz antever o drama.
O homem nu que parecia ter medo de acordar está lentamente a despertar.
A cabeça pesa-lhe e as fontes latejam anunciando a ressaca.
O corpo sente o cansaço e a dor do prazer que não recorda.
A boca seca ainda tem o gosto a vinho, ainda tem o gosto de outra boca, ainda tem o gosto de outra língua, ainda tem o gosto de outra saliva.
Procura um lenço apalpando debaixo da almofada, precisa conseguir respirar.
Assoasse. No lenço restos de uma papa branca misturam-se com algum sangue.
A amnésia é quase total.
Olha para o lenço e lembra que a cocaína tinha sido particularmente gulosa nessa noite.
Preocupa-o não recordar mais nada.
A experiência diz-lhe que o milagroso pó branco tem o poder de trazer à tona o que há melhor e de pior em nós.
Tem um arrepio que não consegue identificar se é frio ou mau pressentimento.
Está assustado.
Esfomeado.
O estômago parece rosnar-lhe exigindo alimento.
Tem frio.
Procura algo para vestir.
Estende a mão para um roupão preto que vê no chão junto à cama.
Veste o roupão.
Levanta-se devagar.
Que noite, deve ter sido esta! Pensa.
Dói-lhe tudo. Até o coração e não se lembra porquê.
Olha para o relógio.
22.45.
Será possível?
A que horas se deitara?
Teria dormido um dia inteiro?
Porque não se recorda nada?
Está habituado aos excessos de álcool e cocaína mas nunca lhe aconteceu não se lembrar.
Desta vez é diferente.
Cada vez que o cérebro se esforça para trazer de volta as memórias dessa noite, sente uma dor aguda dentro da cabeça, como se batesse com toda a força contra uma dura e impenetrável barreira.
Que se teria passado?
O estômago morde-o por dentro.
Decide não pensar e abre a porta que dá para a cozinha, já visualizando na imaginação 2 gordurentos ovos estrelados, 2 fatias de bacon frito mais gordurentas ainda, pão aquecido no forno e barrado com muita manteiga, qualquer coisa muito doce para sobremesa e muita cerveja para a ressaca.
Uma fórmula mágica que ele e Beti tinham criado e se tinha revelado infalível.
Preparou tudo tão rápido quanto o cansaço e as dores na cabeça e no corpo lhe permitiram.
Colocou tudo num tabuleiro.
Pegou no tabuleiro e entrou no quarto desta vez pela outra porta, a que dá para o corredor.
Entrou no quarto lambendo os beiços, ansiando atirar-se para cima da cama e regalar-se com a refeição que a fome e a ressaca faziam parecer um verdadeiro festim.
Entrou no quarto e desta vez viu o quarto real, tal como ele se tinha tornado nessa noite.
O drama tornou-se visível.
Tomou forma.
E entrou dentro dele para de dentro dele não sair nunca mais.
23h e 12m.
Com as mãos a tremer pousou o tabuleiro sobre a cama e os olhos sobre a morte.
No quarto agora o drama espalhava-se por todo o espaço, ocupava todos os recantos, subia pelas paredes, rastejava pelo chão, enrolava-se dengoso entre os lençóis, trepava pelas cortinas, balançava pendurado no candeeiro.
No quarto o drama brincava inocente e matreiro.
No quarto há 2 homens.
Um morto e um vivo.
O vivo está sentado na cama, imóvel, com os olhos fixos no outro homem.
O homem morto está morto caído aos pés da cama.
Tem a cara virada para a porta e a cabeça repousa sobre uma enorme poça de sangue.
Junto ao corpo, frio e indiferente, está o causador daquela morte: um enorme cinzeiro de pedra.
É um cinzeiro de pedra maciça, cinzento muito escuro, rudemente talhado.
Tem aspecto de ser um cinzeiro de peso, o ideal para matar com um golpe apenas.
O homem vivo continua com os olhos postos sobre o homem morto e no seu olhar não parece existir mais vida do que no olhar morto do homem morto.
Assim ficam os dois por muito tempo.
O morto porque não tem alternativa.
O vivo porque gelou.
Não sente nada.
Nem fome.
Nem cansaço.
Nem dor.
Nada.
Lá fora os gatos pequenos brincam ruidosamente. Podemos ouvi-los aprendendo a lutar uns com os outros em brincadeiras de faz de conta. Miam com alegria e entusiasmo enquanto as mães aproveitam para descansar e reunir forças para a próxima mamada. Que força tem as mães na natureza! E as crias, que sorte! Como deve ser bom poder brincar despreocupadamente, sentindo que se está protegido pela maior força da natureza, a força invencível da maternidade.
O homem vivo continua imóvel, petrificado.
Os gatos lá fora zaragateiam... eleva-se o ruído, na rua, no quarto, na alma.
O homem chora.
Silênciosamente.
Ele chora e o miado dos gatos acompanha o seu silêncioso choro.
Não chora pelo homem morto.
Chora por si.
Chora o fim de uma ilusão.
Chora o fim de um sonho.
Chora a incerteza de uma vida, a sua.
Não o incomoda a morte do homem morto.
Incomoda-o tê-lo morto.
Incomoda-o ser um assassino.
Ele... um assassino!
Um sorriso surge por entre as lágrimas.
Ele o paneleiro, é agora um assassino!
Pena não poder contar no emprego, talvez assim o respeitassem.
O homem morto não o tinha respeitado.
Pensava ter amado o homem morto.
Agora que chorava junto ao seu corpo sem vida, sabia que não.
Não o amava nem o tinha amado nunca.
Mas dissera-o.
Agora a sua própria voz ecoava-lhe na lembrança.
A sua voz dizendo ao homem morto quando ainda estava vivo:
É a porta de um quarto.
O quarto está iluminado apenas por um acidental laivo de luz que timidamente surge por entre uma pequena falha nos estores completamente cerrados.
Na penumbra há um drama ainda adormecido.
22h e 22m marca um relógio de pulso, num pulso que ainda dorme.
Há roupas espalhadas pelo chão.
CDs espalhados por cima das roupas.
Há muitas velas já apagadas aleatoriamente distribuídas pelo quarto.
Há 1 garrafa vazia.
2 copos.
Um ainda de pé encostado à mesa-de-cabeceira, outro caído sobre o tapete verde agora manchado de um vermelho muito escuro. Vermelho tinto de vinho ou de sangue.
Uma capa de Cd ainda com vestígios de cocaína.
Branca.
Neve.
Branca de neve.
Parece uma história infantil.
Pura.
Parece e é.
É uma história de pura ingenuidade.
Uma capa de Cd com vestígios de procura vã.
Inspiracion-Espiracion de Gotan Project
Uma nota enrolada.
Um cartão do ginásio.
Um homem nu dormindo abraçado a uma almofada.
Parece uma criança.
Parece uma criança dormindo com medo do sono.
Parece uma criança assustada.
Parece uma criança procurando na almofada o conforto que o sono não dá.
Parece um homem com medo de acordar e perceber que já não é criança.
A imagem faz antever o drama.
O quarto tem duas portas.
Uma dá para o corredor, outra para a cozinha.
Ambas estão fechadas.
O quarto tem duas janelas.
Uma dá para as traseiras.
A outra para um pequeno pátio lateral, agora albergue de gatas vadias que ali vão ter as crias e ali ficam até estas se tornarem gatas independentes e como suas mães irem tambem vadiar. Buscando o que de bom a vida de vadiagem tem para dar: a liberdade! A fome e o frio são compensados pela liberdade em pleno. Livres são todos os gatos mas nenhum é tão livre como o gato vadio.
Ambas as janelas estão fechadas.
O quarto tem 2 cortinas, uma em cada uma das duas janelas.
Na janela das traseiras uma cortina coberta de círculos em tons de verde, laranja e preto, na janela que dá para o pátio uma cortina lisa cor de laranja.
Há uma mistura de intensos cheiros, que condensados naquele pequeno espaço fechado tornam o ar quase irrespirável.
Cheira a perfume.
Cheira a incenso.
Cheira a cera derretida.
Cheira a vinho tinto.
Cheira a suor.
Cheira a prazer.
Cheira a lágrimas.
Cheira a gritos.
Cheira a sexo.
Cheira a desilusão.
Cheira a dor.
Cheira a raiva.
Cheira a morte.
O cheiro faz antever o drama.
O homem nu que parecia ter medo de acordar está lentamente a despertar.
A cabeça pesa-lhe e as fontes latejam anunciando a ressaca.
O corpo sente o cansaço e a dor do prazer que não recorda.
A boca seca ainda tem o gosto a vinho, ainda tem o gosto de outra boca, ainda tem o gosto de outra língua, ainda tem o gosto de outra saliva.
Procura um lenço apalpando debaixo da almofada, precisa conseguir respirar.
Assoasse. No lenço restos de uma papa branca misturam-se com algum sangue.
A amnésia é quase total.
Olha para o lenço e lembra que a cocaína tinha sido particularmente gulosa nessa noite.
Preocupa-o não recordar mais nada.
A experiência diz-lhe que o milagroso pó branco tem o poder de trazer à tona o que há melhor e de pior em nós.
Tem um arrepio que não consegue identificar se é frio ou mau pressentimento.
Está assustado.
Esfomeado.
O estômago parece rosnar-lhe exigindo alimento.
Tem frio.
Procura algo para vestir.
Estende a mão para um roupão preto que vê no chão junto à cama.
Veste o roupão.
Levanta-se devagar.
Que noite, deve ter sido esta! Pensa.
Dói-lhe tudo. Até o coração e não se lembra porquê.
Olha para o relógio.
22.45.
Será possível?
A que horas se deitara?
Teria dormido um dia inteiro?
Porque não se recorda nada?
Está habituado aos excessos de álcool e cocaína mas nunca lhe aconteceu não se lembrar.
Desta vez é diferente.
Cada vez que o cérebro se esforça para trazer de volta as memórias dessa noite, sente uma dor aguda dentro da cabeça, como se batesse com toda a força contra uma dura e impenetrável barreira.
Que se teria passado?
O estômago morde-o por dentro.
Decide não pensar e abre a porta que dá para a cozinha, já visualizando na imaginação 2 gordurentos ovos estrelados, 2 fatias de bacon frito mais gordurentas ainda, pão aquecido no forno e barrado com muita manteiga, qualquer coisa muito doce para sobremesa e muita cerveja para a ressaca.
Uma fórmula mágica que ele e Beti tinham criado e se tinha revelado infalível.
Preparou tudo tão rápido quanto o cansaço e as dores na cabeça e no corpo lhe permitiram.
Colocou tudo num tabuleiro.
Pegou no tabuleiro e entrou no quarto desta vez pela outra porta, a que dá para o corredor.
Entrou no quarto lambendo os beiços, ansiando atirar-se para cima da cama e regalar-se com a refeição que a fome e a ressaca faziam parecer um verdadeiro festim.
Entrou no quarto e desta vez viu o quarto real, tal como ele se tinha tornado nessa noite.
O drama tornou-se visível.
Tomou forma.
E entrou dentro dele para de dentro dele não sair nunca mais.
23h e 12m.
Com as mãos a tremer pousou o tabuleiro sobre a cama e os olhos sobre a morte.
No quarto agora o drama espalhava-se por todo o espaço, ocupava todos os recantos, subia pelas paredes, rastejava pelo chão, enrolava-se dengoso entre os lençóis, trepava pelas cortinas, balançava pendurado no candeeiro.
No quarto o drama brincava inocente e matreiro.
No quarto há 2 homens.
Um morto e um vivo.
O vivo está sentado na cama, imóvel, com os olhos fixos no outro homem.
O homem morto está morto caído aos pés da cama.
Tem a cara virada para a porta e a cabeça repousa sobre uma enorme poça de sangue.
Junto ao corpo, frio e indiferente, está o causador daquela morte: um enorme cinzeiro de pedra.
É um cinzeiro de pedra maciça, cinzento muito escuro, rudemente talhado.
Tem aspecto de ser um cinzeiro de peso, o ideal para matar com um golpe apenas.
O homem vivo continua com os olhos postos sobre o homem morto e no seu olhar não parece existir mais vida do que no olhar morto do homem morto.
Assim ficam os dois por muito tempo.
O morto porque não tem alternativa.
O vivo porque gelou.
Não sente nada.
Nem fome.
Nem cansaço.
Nem dor.
Nada.
Lá fora os gatos pequenos brincam ruidosamente. Podemos ouvi-los aprendendo a lutar uns com os outros em brincadeiras de faz de conta. Miam com alegria e entusiasmo enquanto as mães aproveitam para descansar e reunir forças para a próxima mamada. Que força tem as mães na natureza! E as crias, que sorte! Como deve ser bom poder brincar despreocupadamente, sentindo que se está protegido pela maior força da natureza, a força invencível da maternidade.
O homem vivo continua imóvel, petrificado.
Os gatos lá fora zaragateiam... eleva-se o ruído, na rua, no quarto, na alma.
O homem chora.
Silênciosamente.
Ele chora e o miado dos gatos acompanha o seu silêncioso choro.
Não chora pelo homem morto.
Chora por si.
Chora o fim de uma ilusão.
Chora o fim de um sonho.
Chora a incerteza de uma vida, a sua.
Não o incomoda a morte do homem morto.
Incomoda-o tê-lo morto.
Incomoda-o ser um assassino.
Ele... um assassino!
Um sorriso surge por entre as lágrimas.
Ele o paneleiro, é agora um assassino!
Pena não poder contar no emprego, talvez assim o respeitassem.
O homem morto não o tinha respeitado.
Pensava ter amado o homem morto.
Agora que chorava junto ao seu corpo sem vida, sabia que não.
Não o amava nem o tinha amado nunca.
Mas dissera-o.
Agora a sua própria voz ecoava-lhe na lembrança.
A sua voz dizendo ao homem morto quando ainda estava vivo:
- Amo-te.
O homem vivo respondeu levantando-se, vestindo-se, pegando na chave do carro com intenção de o deixar ali, sem sequer o olhar nos olhos, sem sequer lhe dizer uma palavra.
O homem vivo respondeu levantando-se, vestindo-se, pegando na chave do carro com intenção de o deixar ali, sem sequer o olhar nos olhos, sem sequer lhe dizer uma palavra.
Deixa-lo ali simplesmente, depois de ele lhe ter dito que o amava.
Matou-o por isso.
Não o podia deixar ir assim.
Matou-o por isso.
Não o podia deixar ir assim.
Só!
Tinha-lhe dito que o amava, como podia ele partir depois disso?
Tinha-lhe dito que o amava, como podia ele partir depois disso?
Como?
Não podia!
Pegou no cinzeiro e bateu-lhe com força na cabeça.
Matou-o.
Pegou no cinzeiro e bateu-lhe com força na cabeça.
Matou-o.
Foi tão rapido! Tão fácil!
Caiu e ali ficou inerte no chão.
Não se lembra de mais nada.
Agora é um assassino.
Chorou um pouco mais.
Caiu e ali ficou inerte no chão.
Não se lembra de mais nada.
Agora é um assassino.
Chorou um pouco mais.
Riu um pouco mais.
Depois foi buscar uma enorme mala preta que comprara numa feira, a maior mala que alguma vez vira. Gostava de viajar mas era vaidoso por isso era daqueles que custumava levar a casa atrás para qualquer lado. Era difícil transportar, quase sempre sozinho, as 3 ou quatro malas que sempre o acompanhavam quando viajava. Aquela mala gigante, com imenso espaço, com rodase fácil de transportar tinha resolvido todos os seus problemas antes e iria resolvê-los de novo.
Colocou a mala no chão ao lado do homem morto. Com uma força que desconhecia ter, que lhe vinha talvez do primário instinto de sobrevivência, conseguiu puxar o homem morto e todo peso da sua morte para dentro da mala. Com jeito foi capaz de moldar o corpo inerte ao formato da mala.
Limpou bem o sangue do chão. Colocou os panos ensanguentados e o roupão preto que tinha vestido junto com o corpo e fechou a mala para sempre.
Sentou-se na cama e comeu tudo o que tinha no tabuleiro, a comida estava fria mas era-lhe indiferente, sabia apenas que precisava de alimento para recuperar forças.
Levou o tabuleiro para a cozinha.
Cuidadosamente arrumou o quarto.
Juntou num saco pequeno algumas roupas e apenas os essenciais produtos de higiene.
Sentou-se na cama e comeu tudo o que tinha no tabuleiro, a comida estava fria mas era-lhe indiferente, sabia apenas que precisava de alimento para recuperar forças.
Levou o tabuleiro para a cozinha.
Cuidadosamente arrumou o quarto.
Juntou num saco pequeno algumas roupas e apenas os essenciais produtos de higiene.
Tinha de se tornar um homem novo. Pensou.
Puxou a pesada mala até á porta da rua.
Colocou o pequeno saco com as roupas ao lado da mala e foi tomar um banho.
Fez a barba perfumou-se, vestiu-se de forma prática mas não descurando a elegância.
Puxou a pesada mala até á porta da rua.
Colocou o pequeno saco com as roupas ao lado da mala e foi tomar um banho.
Fez a barba perfumou-se, vestiu-se de forma prática mas não descurando a elegância.
Pegou na chave do carro, no maço de cigarros, no isqueiro Dupont ( presente dos pais quando acabara o curso) na carteira e nos documentos, incluindo o passaporte e colocou tudo no bolso do blazer bombazina castanho claro.
Abriu o estore da janela que dá para o pátio, abriu a janela e ficou por uns momentos, fumando e olhando os gatos vadios.
Voltou a fechar tudo.
Na sua mente apenas uma palavra: sobrevivência.
Arrastou a mala com as duas mãos pelas escadas abaixo, equilibrando o saco no ombro.
Colocou tudo no carro, com a força acabada de descobrir e sem olhar para trás partiu.
Conduziu com o propósito único de se livrar do peso daquela mala.
Livrou-se dela.
Livrou-se da mala, do homem morto e de um peso dentro do peito.
Atirou tudo ao mar.
Do cimo das rochas ficou a ver a mala preta desaparecer entre as águas.
A água limpa, purifica dizem.
Voltou a fechar tudo.
Na sua mente apenas uma palavra: sobrevivência.
Arrastou a mala com as duas mãos pelas escadas abaixo, equilibrando o saco no ombro.
Colocou tudo no carro, com a força acabada de descobrir e sem olhar para trás partiu.
Conduziu com o propósito único de se livrar do peso daquela mala.
Livrou-se dela.
Livrou-se da mala, do homem morto e de um peso dentro do peito.
Atirou tudo ao mar.
Do cimo das rochas ficou a ver a mala preta desaparecer entre as águas.
A água limpa, purifica dizem.
Purificaria o homem morto e levá-lo-ia ao céu?
A ele nada o podia purificar.
A ele nada o podia purificar.
Nada podia limpar o que tinha feito.
O meu nome é Carlos e sou um assassino.
existiriam reuniões para assassinos anónimos?
Sorriu tristemente.
Ninguém o podia ajudar.
Pensou de novo na palavra sobrevivência.
S-O-B-R-E-V-I-V-Ê-N-C-I-A
Entrou no carro e partiu.
Iria ser como um gato vadio. Procurando manter a liberdade. Tentando sobreviver.
Um homem só. Uma estrada. Um destino desconhecido.
Um novo começo talvez.
Entrou no carro e partiu.
Iria ser como um gato vadio. Procurando manter a liberdade. Tentando sobreviver.
Um homem só. Uma estrada. Um destino desconhecido.
Um novo começo talvez.
Agora apenas, partir.
(continua)
(continua)
Isabel
Fotografia de grENDel