segunda-feira, março 10, 2008

Quero a fome

Quarenta anos: não quero faca nem queijo. Quero a fome.

(Adélia Prado)



vou ausentar-me daqui

por lá andarei
vivendo a desejada fome

quis esta
fome
tenho-a agora

muita


caso-me dia 17
sem dote
sem vestido
sem festa
sem anel
sem bouquet
sem faca nem queijo
com fome apenas
muita

parto para a Bahia dia 30 de Abril
na mala:
nem passado
nem futuro
nem plano
nem destino
nem ânsia
nem medo
nem faca nem queijo
na mala :
fome apenas
muita

a seu tempo comerei
muito
demasiado
quase tudo

a seu tempo
voltarei
enfardada
regurgitando
a gula
vomitando
o excesso
em palavras transformado

a seu tempo
escreverei ____________ tudo
até
eu _______________________________toda
ser___________ de novo _____________apenas
fome


até breve e muito obrigada
por virem, serem, estarem, partilharem, comerem e beberem comigo nesta minha/nossa mesa de palavras


Helena Isabel Ponce

Fulfilment
Gustav Klimt

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

A FLAUTA

- Isabel – pergunto a mim mesma – afinal o que estás tu a construir?
- Uma flauta. Respondo.
-E tens mesmo de a construir. Continuo.
-Tenho. É inevitável, é absolutamente necessário. Respondo.
- Mas não podias descansar um pouco? Insisto.
- Não. Há tarefas que não se podem interromper nunca, a construção da flauta é uma delas.
- Mas, Isabel – teimo eu – estás com um ar cansado. Devias abrandar. Aconselho eu.
- Não posso abrandar agora. Afirmo categoricamente.
- Mas porquê? Teimo em perguntar.
- Porque não.
-Isso é uma resposta idiota, devias era parar essa construção de uma vez por todas , deixa a flauta como está e pronto! Ela já está muito bem assim, ou não te chega nunca? Pergunto-me já zangada.
- Não terminarei nunca porque não me chegará nunca, é isso mesmo!
Depois calei-me.
Sabia que não iria mesmo terminar nunca de construir a minha flauta.

- Uma flauta? – Perguntam agora vocês.
- Sim, gatos à parte, aqui estou a construir a minha flauta. Respondo eu com um sorriso levemente irónico nos lábios.
Enlouqueceu de vez! Pensam vocês.
Talvez!
Mas primeiro leiam o que se segue, quiçá tão deliciados como eu li.



- Quero que saibas uma coisa. Não ando por ai a matar gatos só porque me dá na gana. Não sou uma pessoa assim tão perturbada a ponto de achar graça a isso – continuou ele – Não sou propriamente um diletante, com tempo para dar e para vender. Apanhar gatos é uma coisa que custa muito tempo e dá muito trabalho. Se ando a matar gatos é porque colecciono as suas almas, que depois utilizo para criar uma flauta especial. Para então poder tocar essa flauta e então deitar mão a almas ainda maiores. Para depois graças a essas almas construir uma flauta ainda maior. E assim por diante até conseguir dar forma a uma flauta maior sem igual no universo inteiro. Mas primeiro vêm os gatos. O primeiro passo em todo este projecto consiste em angariar as suas almas. Como em tudo na vida há uma ordem que tem de ser seguida. É sinal de respeito fazer as coisas pela ordem correcta. Quando se lida com as almas dos outros tem de ser assim. Não estou propriamente a lidar com ananases, nem com melões não te parece?

Todos nós temos a nossa missão na vida. É natural que assim seja. O mais natural é nunca teres ouvido falar de uma flauta feita com almas de gatos, pois não?
- Não.
-Evidentemente que não. Não é coisa que nos entre pelos ouvidos.
- Uma flauta que não se ouve?
- Exactamente. Claro está que eu consigo ouvi-la.

Se não conseguisse nada disto faria sentido. Mas estamos a falar de um som que as pessoas normais não são capazes de captar. E mesmo que tal aconteça, não se dão conta disso. Pode até acontecer que já tenham ouvido aquela sonoridade algures mas não têm consciência disso. Pode até acontecer que talvez – e digo talvez – tu sejas capaz de a ouvir. Se tivesse uma flauta agora aqui comigo podíamos fazer a experiência, mas infelizmente não tenho.
-Depois levantou o dedo como se tivesse acabado de se lembrar de uma coisa. – Na verdade, estava a preparar-me para cortar a cabeça aos gatos que arrebanhei. Está na hora da colheita.

(excerto retirado do livro de Haruki Murakami, “Kafka à beira mar”)



Também eu aqui me encontro neste estranho mundo construindo a minha flauta.
O meu instrumento.
O meu toque.
Mas não é tarefa fácil.
Construí-la já é muito difícil.
Tocá-la é um trabalho árduo e delicado.
Escutá-la tem tanto de sublime como de ensurdecedor.
Por vezes até dou por mim ansiando silenciá-la, imaginem!
A ela.
A esta minha flauta que construo há meia vida e levarei outra metade para terminar.
A minha flauta!
Como será o seu último som?
Faz parte da minha tarefa de construção, conseguir que o seu último som seja sublime.
Pleno de beleza e alegria.
Repleto de uma suavidade festiva.
Isso, uma suavidade festiva, assim como se de um fim de festa se tratasse.
Um som que seja eu.
Eu bonita e risonha com um lindo vestido de cores garridas, já meio amarrotado de tantos abraços, com maquilhagem já esborratada de tantos beijos, com as pernas já cansadas de tanto dançar, com o sexo já dorido de tanto amar, com a pele já enrugada de tanto viver.
Eu assim, ainda bela, com os lábios ainda a sorrir, os olhos ainda a brilhar.
Eu cansada, eu ofegante, eu ainda a arder eu ainda rodopiar.
Eu a rodopiar só uma vez mais e por fim deixar-me cair de braços e peito aberto sobre a cama soltando um prazeiroso suspiro de fim de festa.
Será esse último som da minha flauta: sublime como um suspiro de fim de festa.
Agora, hoje, pelos dias feitos tempo fora há que criar, tocar, escutar.
Há que continuar construindo.
Gatos a parte.
Há que deitar mão à minha própria alma.
Há que ir recolhendo os pedaços que se lançaram à solta por ai, ao que foram roubados pelos tempos esquecidos, os que fugiram com os dias sem memórias, os que desaparecem nas correntes dos desesperos ou se afogam lentamente nos rios de lágrimas pesadas.
Pedaços que se deixaram ficar lá no fundo dos poços escondidos.
Pedaços de alma minha que o coração estraçalhou.
Pedaços de alma minha que esta bela/ maldita vida foi devorando insaciável.
Deitar-lhes a mão.
Recolhê-los.
E voltar a perdê-los e procurá-los e recolhê-los de novo e não parar nunca este ciclo infindavelmente cansativo e deslumbrante.
A flauta!
Há que a continuar construindo.
Há que a continuar tocando.
Nunca a saberei tocar na perfeição.
Nunca saberei tocar na perfeição a minha própria sinfonia.
Nem quero.
A perfeição é o fim.
Atingi-la é acabar.
É tarefa completa.
É missão cumprida.
FIM.
THE END.
No toque da minha flauta ainda nada é perfeito.
Ainda desafino na minha sinfonia.
Está meia incompleta e a metade que completei sinto-a tão incompleta como a que ainda não comecei.
Ainda a toco mal.
Quero continuar a tocar.
E a escutar.
A minha imperfeita sinfonia.
A minha e outras.
Outras todas elas imperfeitas como a minha mas todas diferentemente imperfeitas.
É essa a maravilha da sinfonia das almas: sempre incompleta, sempre imperfeita.
Quero tentar escutar todas as flautas, todas as sinfonias, e quero guardar todas as que conseguir escutar dentro da minha própria sinfonia.
Quero que me escutem também.
Quero que me escute quem quiser.
Quero que me escute quem tentar.
Quero que me escute quem conseguir.
Mas quero que me escutem.
É a MINHA flauta.
Não é fácil escutá-la, eu sei!
Nem para mim.
Tantas são as vezes levo as mãos à cabeça e lhe suplico que pare de tocar.
Tantas são as vezes que em desespero lhe peço que se silencie.
Há até alturas em que desejo nunca a ter construído – mas mesmo nessas alturas ela é a minha flauta.
A minha única flauta, parte inseparável de mim, amada, amaldiçoada mas infinitamente minha.
Quando eu acabar ela acaba.
Mas eu não acabei.
E está na hora da colheita.
Deixo aqui um pedaço de minh´alma, um acorde da minha flauta, um pedaço da minha imperfeita sinfonia.
Escutam?
Voltarei um dia para recolher o que aqui deixei.
Agora tenho de ir correndo.
Está na hora da colheita.

Isabel


A flauta mágica
Marc Chagall

terça-feira, janeiro 22, 2008

O tempo das borboletas

Silenciei-me.
Ausente de palavras
Ausente da escrita e fraca na voz.
Silenciei-me.
Pousei minh’alma em silenciosos sentires.
Mudei.
Mudei muito.
Não troquei de pele, troquei de interiores.
Preciso, agora, vasculhar as entranhas desta mudança, preciso, agora, rasgar-me para de dentro de mim se soltar uma nova voz, uma nova linguagem, uma nova verdade.
Perdi as minhas antigas palavras em novos sentires e o muito que de novo encontrei não o sei dizer ainda.
Tive medo. Muito medo.
Tive muito medo e mudei tanto quanto o medo que tive.
Silenciei-me.
Rezei silenciosa a um deus em que não creio.
Ajoelhei muda e humilde ante a visão de um medo todo-poderoso.
Agora procuro as cores da minha nova voz.
Busco-me.
Revolvo-me.
Não parei.
Eu não paro.
Danço.
Danço e rodopio atrás das borboletas.
Chegou o tempo das borboletas, sabiam?





"Paisaje con mariposas"
Salvador Dali


O medo chegou sem meter medo nenhum.
Surgiu como um vento muito suave, uma brisa quase imperceptível, um arrepio leve na pele.
Veio devagarinho, pé ante pé e foi ficando.
Quase sem se dar por ele foi crescendo lentamente, tão lentamente que na verdade parecia não crescer.
A menina brincava com ele como quem brinca com um amigo invisível.
Rodopiavam juntos, de mãos dadas, rindo muito até a menina ficar tonta e se deixar cair no chão sem nunca parar de rir.
Deitada no chão abria os braços e ficava a ver o mundo andar à roda.
O mundo rodava, rodava e as cores iam-se esbatendo, os contornos iam-se suavizando tudo se ia cobrindo de uma enorme e enternecedora doçura.
A doçura não assusta ninguém, mas devia.
A doçura é perigosa.
A doçura devia assustar.
A doçura por ser tão doce é o mais terrível dos venenos, lento, suave, morno e deliciosamente letal..
Ela e o medo gostavam muito brincar juntos.
Ela brincava com ele e ele brincava com ela.
Ela gostava dele e ele gostava dela com ele.
Cada vez que brincavam às rodas o medo tentava acelerar um pouco mais a velocidade com que rodopiavam, a menina ria e esforçava-se por conseguir acompanhá-lo, até rodarem tão rápido que os seus pequeninos pés levantavam do chão.
Quando isso acontecia, sempre a sorrir, pedia ao medo para parar.
O medo que não lhe queria meter medo parava de imediato.
Mas o medo era feito de medo e mesmo a medo voltava a tentar acelerar.
A menina foi-se habituando e aprendendo a rodar cada vez mais depressa
mais depressa
mais depressa
mais depressa
cada ver mais rápido
mais rápido
mais rápido
mais rápido
Cada vez mais veloz
mais veloz
mais veloz
mais veloz
Um dia, entre tantas rodas e rodopios, voltas e reviravoltas, a menina caiu tonta no chão como já era costume, mas esse dia foi especial,depois desse dia nada mais foi como era antes.
Procurou a doçura do mundo e não a encontrou.
Procurou o mundo e o mundo inteiro parecia não estar lá.
Apenas uma densa sombra cinzenta a envolvia escondendo-a de tudo e escondendo tudo dela.
Viu a sombra estender-lhe um dos seus enormes braços, agarrá-la com uma das suas enormes garras, sorrir-lhe com um assombroso sorriso e dizer-lhe:
Anda menina, vamos continuar a brincar!
Teve medo.
Estava perdida.
Estava sozinha.
Não sabia do sorriso.
Não conseguia ver as cores.
Não encontrava o mundo.
Junto de si apenas o medo.
Olhou o medo nos olhos e pela primeira vez teve medo.
O medo, agora, era grande.
Enorme.
Gigantesco.
Muito maior do que ela.
O medo era um gigante e ela era muito pequena.
De brisa suave ele tinha passado a ventania e rodeava-a com seus longos braços estreitando-a num abraço assustadoramente protector, enquanto rodava em volta dela mais rápido do que alguma vez tinham rodado juntos.
Já não rodava com ela.
Rodava com ela dentro dele.
O medo agora metia medo!
Pobre menina coberta de medo!
Pobre menina, escondida do mundo, distante de tudo.
Viveram muito tempo juntos.A menina e o medo, a menina com medo, o medo com menina..
Ele apertando-a nos braços longos.
Ela sufocada nos longos braços dele.
Mas muito, pouco, sempre ou nunca não são tempos dos nossos tempos, são crenças de outros tempos, belas mas distantes... ainda assim, e mesmo que digam que não, há sempre o tempo das borboletas.
Tontas, alegres, coloridas, pousando aqui e ali alheias ao tempo e aos tempos e no entanto plenas de vida.
Uma enorme borboleta, verde e amarela, entrou esvoaçando dentro do medo e foi pousar mesmo na ponta do nariz da menina.
A menina achou-lhe graça.
Não via nada a não ser o medo há tanto tempo que a graça se transformou em deslumbre quando viu a borboleta voar.
Não pensou.
Não hesitou.
A borboleta voou e a menina foi atrás.
Correu encantada atrás da borboleta verde e amarela e só parou quando deu por ela rodeada de muitas borboletas coloridas, eram tantas e de tantas e de tantas cores que se sentiu rodeada de todas as cores que as cores podem ter.
Olhou em volta e percebeu que se tinha afastado muito do medo mas ainda o via, lá longe, esticando os longos braços ,tentando alcançá-la. Ainda o escutava, num gemido distante chamando por ela.
Ignorou o medo.
Sabia que ele iria continuar a esperar por ela.
Voltou-lhe as costas.
Deixou o olhar vadiar pousando-o ora aqui ora ali bebendo sôfrega a beleza das coisas.
Por fim começou a dançar, saltar e correr atrás das borboletas.
Distraída esqueceu o medo.
Chegara o tempo das borboletas.



A menina ficou longe do medo a brincar.
E eu, com medo que o tempo me fuja, entro noutro tempo e brinco também.
Brinco de menina e invento-me rainha das borboletas.
Chegou o tempo das borboletas, sabiam?


Isabel

quinta-feira, novembro 15, 2007

Uma história de medo e liberdade

Esta história contou-me uma gata já velhota com quem costumo ter longas conversas:

Andava um grande e fortalhaço gato vadio, vadiando por aí, nas suas andanças de gato sem dono, quando ao saltar para o varandim de uma janela deu de caras, que é como quem diz, deu de focinho com bico, com um pequeno e frágil passarinho dentro de uma gaiola.
Todos os animais reagem por instinto mas este gatarrão por se tratar de um gato vadio de nascença tinha o instinto natural em estado puro. O seu instinto dizia-lhe que tinha muita
fome que aquele passarito apesar da aparência frágil seria suficiente para lhe acalmar a dor no estômago pelo menos por mais um dia.
Deu duas voltas à gaiola com passo lento de felino.
Mirou o pássaro com ar guloso enquanto lambia os beiços.
Astuto bastou-lhe mais uma volta à gaiola para descobrir a porta.
Parado em frente à entrada da gaiola olhou para o passarito e o seu estômago roncou ruidosamente fazendo o gato pensar que tinha de descobrir rapidamente uma maneira de abrir aquela porta para devorar o periquito azul e assim por fim à terrível sensação de fome.
Dentro da gaiola o passarinho tinha petrificado de pavor. Parecia uma estátua sem vida, Totalmente estático em cima do poleiro. Apenas um movimento era visível, as penitas azuis claras do seu peito agitava-se para cima e para baixo deixando adivinhar a força com que batia o seu pequeno coração.
O gato, por ser gato, não prestou a mínima atenção ao medo do pobre passarito.
A sua atenção estava centrada em matar a fome e acabara de encontrar alimento, isso era o que realmente lhe importava.
Vou conseguir abrir esta porta e é já!Pensou confiante.
Ou eu não me chame Minhanhinhau, se não abro esta porta num piscar de olhos!
Assim pensou melhor o fez, levantou a sua grande pata e deitou a gaiola ao chão.
Tomado pelo pânico o passarito desatou a esvoaçar como um louco batendo de um lado para o outro contra as grades da gaiola.
O gato que até era um gato já vivido nunca tinha visto nada assim.
Olhou o passarito com ar incrédulo e perguntou-lhe:
Olha lá o bicharoco das penas, que parvoíce é essa que estás a fazer?
O pássaro não respondeu e continuou pumba, catra pumba contra as paredes da gaiola mostrando-se cada vez mais agitado.
Miau! Berrou o gato:
És surdo, ou quê ó pitéuzinho bom?
Que raio de coisa é essa que estás a fazer, praí a bater feito tonto com a cabeça nas grades?
Responde ó ave rara!
Se não respondes imediatamente como-te já.
Ouviste?
Olha que é já mesmo!
Responde imediatamente. Disse o gato ameaçador.
Com medo de ser de imediato comido o passarinho lá voltou a pousar no poleiro e tremendo como varas verdes lá soltou um piu muito sumidito do pequeno bico amarelo:
Piu, piu. Tenho medo! Tenho muito medo que o Sr. Gato me coma.
Olha lá para mim. Disse o gatarrão enchendo o peito de ar.
Olha-me bem, meu minorca!
Então tu achas que eu tenho focinho de parvo ou quê?
Quer dizer, tens medo que eu te coma e a tua solução é partires-te tu todo contra as grades da tua casa. E estás à espera que eu acredite nisso?
Piu, piu, mas é verdade. Respondeu o passarinho com as penas caídas, a cabecita para baixo e o ar mais honesto, amedrontado e infeliz do mundo.
É pá, é pá, prontos, já vi tudo, és um medricas, um bichinho da dona e perdes completamente a cabeça quando algo te assusta, não é o meu pirralho azulado?
Hehehehe! Ria o gato.
Hehehehe! Tanto riu que acabou rebolando no chão com as patas agarradas à barriga que já lhe doía de tanto se rir.
És um daqueles tótos que conta com a dona para tudo e não te sabes safar de nada sozinho não é?
Aposto que já nasceste nesse espaçozito, todo bonitinho mas minúsculo não? Perguntou.
Já, já nasci aqui, não conheço mais nada, nem nunca sai desta casa. Disse o pássaro envergonhado.
Olha lá ó tigelinha de alpista e que nome tens tu? Perguntou o gato.
O meu nome é Azulinho. Respondeu o periquito.
O teu nome é o quê? Miou o gato com os olhos muito abertos de espanto.
Azulinho!
Azulinho!
Azulinho! Repetiu.
Ai, desgraçado!
Ai, coitadito!
É pá com um nome desses só podias mesmo ser um passarito todo bétucho.
Hehehehe! Deixa-me rir antes que me esqueça. Gargalhava o gato engasgando-se de tanto rir.
Azulinho!
Heheheheh!
Olha lá ó azulinho, vê lá se te acalmas, qu’é para ver se conseguimos ter aqui uma converseta, ok? Disse o gato.
Respiras fundo e tal, essas coisas que se fazem para um gajo se acalmar está bem? Disse o gato tentando ser atencioso.
Eu estou a tentar acalmar-me, juro, mas promete que não me comes, por favor. Promete que não me comes, prometes? Pediu o passarito.
Não prometo nada, népia, neribi, era só que faltava.
Sou gato e o natural é comer-te.
Até já o devia ter feito em vez de estar para aqui a tagarelar feito gata com um passareco de meia tigela, mimado e artolas.
Nem me estou a reconheceu, ouviste ó patareco.Mas estás-me a dar pena, tás a ver?
É estranho, mas já nem apetitoso me estas a parecer. Miou o gato zangado consigo mesmo.
Ouves o meu estômago a roncar? Perguntou.
Ouço sim, coitado de ti, tenho muita pena. Respondeu o passarinho.
Pois este barulho é fome! Informou o gato.
Coisa que tu minha coisita mimada nem deves saber o que é.
Sabes quando foi a minha última refeição?
Eu digo-te. Foi ontem de manhãzinha, os restos da papa de um miúdo mimado como tu que tem tudo do bom e do melhor mas teima sempre que não quer comer, imagina.
A mãe bem tenta, mas ele cospe, deita fora, faz birras, uma verdadeira vergonha!
Claro que muitas vezes é a minha sorte.
A minha e de outros como eu.
E olha que há praí muito gato esfomeado.
E não é só gatos.
Também há muitos cães e cada vez mais pessoas.
A mãe do puto, coitada, vem sempre toda chorosa deitar os restos num caixote do lixo que fica no pátio da casa, eu que já topei isso vou lá regalar-me.
Bem boa aquela papa.
É feita com leite e é muito docinha.
Não entendo porque é que o miúdo nunca come a papa toda.
É como tu, não sabe o que é ter fome.
Se passasse fome um dia ia ver como é bom ter de comer.
Ainda por cima comidinha boa e dada pela mãe, uma senhora tão bonita e simpática e que parece gostar tanto dele. Disse o gato revelando alguma tristeza.
A tua mãe não te dava comida? Perguntou o passarinho.
Não, não dava. Respondeu o gato.
Ou melhor, deu enquanto pode, mas foi pouco tempo.
A minha mãe morreu envenenada por um casal de pessoas más que não a queriam lá no quintal deles, ela coitada só queria um sítio seguro para me ter a mim e aos meus irmãos. Nascemos 7 mas o mais pequenino morreu logo.
Ainda mamámos o leite bom e quentinho da minha mãe uns dias mas depois os donos da casa descobriram a nossa família e envenenaram a minha mãe e atiraram-nos a nós, os 6, para um terreno baldio. Devem ter achado que morríamos de frio e fome e assim nem tinham o trabalho de nos matar.
Mas os gatos tem 7 vidas sabes?
Lá nos fomos desenrascando até aparecer um gato mais velho que nos ensinou a caçar ratos e a procurar no lixo das casas mais ricas as coisas boas que eles deitam fora.
E como vez cá estou. Não sou gordo porque não como muito, mas muito forte e elegante.
As gatas gostam de mim por causa disso.
Levanto bem o pescoço e ando assim, tás a ver?
Olha para isto. Dizia o gato enquanto se punha a andar de um lado para o outro todo pomposo.
Sei que tenho uma bonita postura.
E sou muito corajoso.
Luto pelas gatas com unhas e dentes sempre que é preciso.
As gatas adoram isso. Disse o gato voltando a fazer pose.
Olha lá, já vi que és um gato bom e corajoso mas és muito vaidoso. Riu o passarito.
Claro que sou! Respondeu o gato também a rir.
Se eu não me achar o maior as gatas também não vão achar, é ou não é ó peninhas?
Sei lá se é. Disse o passarinho.
Não sei nada de gatas, nem sei de periquitas quanto mais de gatas.
Eu nasci nesta gaiola e também estive pouco tempo com a minha mãe. Um dia levaram a minha mãe e os meus irmãos e deixaram-me aqui sozinho. Nunca mais vi nenhum periquito e tu és o primeiro bicho que vejo. Só sei que és um gato porque já tinha visto outros como tu naquela caixa chamada televisão e ouvi os miúdos cá da casa apontarem e dizerem que era um gato.
E tu já tinhas visto um periquito? Perguntou o pássaro curioso.
Se queres que te seja sincero, até já comi um, são bons vocês, não tem muito que se coma e dá trabalho livrarmo-nos de tantas penas mas lá que são saborosos são, um verdadeiro pitéu.
Ai, meu Deus? Disse o passarinho voltando a perder a calma
Se comeste e gostaste tanto também me vais comer a mim.
Calma ó medricas emplumado! Eu não matei o outro.
Encontrei-o morto e comi-o só isso.
Não se pode desperdiçar comida.
E se comesse era mais que natural, os gatos comem pássaros.
Mas se queres que te diga com esta converseta toda já não te vou conseguir matar a ti.
Já quase gosto de ti, meu lingrinhas azulado.
Sabes, se calhar vou ser teu amigo e soltar-te, assim ficas livre e podes voar, queres?
Ah, eu livre?
Eu a voar por ai?
Eu?
Ai, meu Deus, não sei.
Eu gostava mas tenho medo! Disse o passarinho.
O quê? Tens medo de ser livre e voar?
Mas que raio de pássaro és tu?
Para que queres então as asas?
Não é para voar que servem as asas?
Não estou a entender?
Olha, eu quem me dera ter asas e poder voar. Disse o gato com olhar sonhador.
O que eu não fazia!
Lá de cima via tudo muito bem, podia ver onde havia comida e nunca mais passava fome, podia conhecer outras gatas sem ser estas daqui das redondezas, podia fazer mais amigos, podia voar para sítios quentes quando aqui faz frio e nunca mais ia dormir encharcado praí num buraco qualquer, podia partir à aventura e conhecer sítios novos, novas paisagens, arranjar novas brincadeiras.
Quem me dera ter asas como tu e poder voar.
Mas és livre! Piou o passarinho.
Pois sou. Completamente livre e não trocava a minha liberdade por nada.
Tu também podes ser livre, ó escanzelado. Eu ajudo-te.
Abro-te a porta para puderes fugir e depois já podes voar em liberdade.
É só descobrir como se abre e solto-te já. Depois ponho-me a andar que tenho de procurar algo para matar a fome, já que não te vou comer a ti não é, meu azulinho dum raio.
Vamos mas é descobrir como se abre esta coisa.
Espera.
Espera aí. Pediu o passarinho.
Eu não sei se quero ser livre assim dessa maneira.
Se eu for livre quem é que me dá comida?
Quem é que me põe água fresquinha todos os dias?
Quem é que me dá uma casa para me abrigar do frio?
Quem é que me faz um ninho para eu ter filhotes?
Ninguém meu! Respondeu o gato.
Ninguém, claro!
Tens de te desenrascar sozinho.
Mas isso parece ser muito difícil! Piou o passarinho.
Claro que é difícil. Muito difícil, mesmo.
Mas quem é que te disse que ser livre era fácil?
Não é nada fácil mas é muito bom.
Nada se compara à liberdade.
É a única coisa que faz sentido.
Mas só para alguns, pelos vistos.
Sabes Azulinho, eu acho que tu tens asas mas é como se não tivesses.
Nasceste numa prisão e vais ser sempre prisioneiro.
Tens medo da liberdade.
Tens asas mas não queres voar.
O medo é de chumbo, sabias?
De nada te servem as asas quando o peso do medo não te deixa voar.
Tens razão. Disse o passarito com olhos cheios de tristeza.
Mas eu não tenho a tua coragem.
Gostava de ser como tu mas não sou.
Pois não. Disse o gato.
Não és nada como eu.
Somos todos diferentes.
Tu hoje pudeste escolher a liberdade e escolheste ficar prisioneiro.
É a tua escolha. E eu não entendo mas respeito.
Mas quero que saibas que há quem nunca tenha podido escolher, sabias?
Eu nunca sonhei ter essa escolha. Piou o passarito a choroso.
Desculpa, não sou capaz.
Tenho medo.
Muito obrigada gato.
Foste um grande amigo não só não me comeste como ainda me querias soltar. Eu é que sou mesmo um parvo!
Vá, vá, pára lá de te lamentares da tua cobardia, eu prometo que cada vez que passar por aqui venho contar-te histórias do mundo, queres? Perguntou o gato.
Adorava, adorava mesmo. Piou comovido o passarinho.
Antes de ires diz-me como te chamas, ó amigo gato.
Chamo-me Minhanhinhau, amigo azulinho.
Vá gora tenho de me pirar e ir procurar comida, estou mesmo esfomeado.
Adeus, meu lingrinhas medricas.
Adeus, gato forte e corajoso.
O passarito levantou a asa para lhe acenar.
O gato sorriu tristemente.
Pensou que aquela pequena asa nunca saberia o que era voar.
Saltou do varandim e desapareceu voando.


A gata minha amiga conta que o gato, até um dia morrer atropelado, voltou sempre para contar as suas aventuras ao passarinho.
Nunca conseguiu entender porque dava Deus asas a quem não queria voar, mas amava tanto a liberdade que não queria deixar de partilhar um pouco da sua com o seu amigo pássaro, eternamente prisioneiro do seu próprio medo.
Por um lado consolava-o saber que ao menos aquele passarinho tinha podido escolher, por outro entristecia-o pensar que ele escolhera não aproveitar a hipótese de ser livre.
A minha amiga gata contou-me esta história para me explicar que só consegue ser livre quem tem uma vontade de liberdade mais forte que a força do medo.
Eu ouvi a história e concordei.
Era sábia e livre a minha amiga gata.
Quanto a mim, cá estou, ainda a aprender a não deixar que o peso do medo me impeça de voar.

Helena Isabel Ponce







































terça-feira, novembro 06, 2007

As imagens transbordam

Há um sol pleno de vida a queimar
EU ARDO


Há música a tocar-me dentro peito
EU DANÇO



Há um corpo feito de sensações
EU SINTO




Há uma alma a pedir sempre mais
EU DOU

Há uma vida inteira a chamar
EU VOU


EU VIVO
NÃO

ME

CONTENTA

A

SOBREVIVÊNCIA

ESTOU VIVA

O impulso que há em nós, interminável,
De tudo ser e em cada flor florir?
(Sophia de Mello Breyner Andresen
)

terça-feira, outubro 30, 2007

O SORRISO DA LUA


O Miguel Figueiredo compôs a música e criou o vídeo.

A voz e som são do Miguel Figueiredo.

As imagens utilizadas são de Arraial d´Ajuda e Trancoso, na Bahia, Brasil, o nosso paraíso ( meu e dele).

Esta música foi criada para mim e é com um carinho muito especial que a partilho com vocês aqui.

Um sorriso cheio de amor para ti Miguel.

Um sorriso cheio de luz para todos os que aqui vierem partilhar connosco o Sorriso da "nossa" lua.

Isabel

segunda-feira, outubro 22, 2007

Desculpa

Procuro uma forma de escrever sobre ele.
Não importa que seja belo.
Não interessa se é tocante.
Não busco a originalidade.
Queria apenas conseguir escrever sobre ele com decência.
Algo decente.
Algo dignificante.
Como ele merece.
E não teve.
Ele foi o único digno e decente naquele dia.
Era hora de almoço, dia de semana, centro de Lisboa.
Estava calor e brilhava o sol de Outono.
Tudo parecia bonito.
Era apenas agitação habitual das horas de almoço mas nesse dia, por o dia estar especialmente bonito, as pessoas pareciam particularmente alegres e bem dispostas.
Há minha volta tudo eram sorrisos.
No meio de todos estes sorrisos apressados, estava ele.
No meio de todos nós, formiguinhas agitadas buscando alimento, estava ele.
Deitado no chão, todo enroladinho, com um braço debaixo da cabeça para suavizar a dureza do chão.
Dormia.
Dormia profundamente no meio do passeio.
Literalmente no meio.
Ele e as laranjas.
Havia laranjas, abertas a meio e chupadas até à casca, deitadas ao lado dele no passeio.
Pareciam ali estar para embelezar o cenário.
Imaginei-o sentado no chão, cansado, com sono, com fome, com sede, com calor, agarrado ás laranjas, chupando-as sofregamente, buscando-lhes a doçura, a frescura, o conforto no estômago e na alma que iriam ajudar a adormecer.
Não sei se foi como eu imaginei.
Mas sei que ele dormia ali no meio do passeio e parecia em paz.
Imaginei-o durante a noite deambulando pelas ruas pensando em dormir, imaginei-o ainda pouco familiarizado com a sua situação sem saber para onde encostar, imaginei-o a tentar várias vezes em vários sítios sem nunca se sentir seguro, sem nunca conseguir encontrar um canto onde descansar os ossos por não conseguir descansar a mente.
Imaginei-o a falar para dentro, a tentar acalmar-se, a dizer a si mesmo que já era altura de se habituar, que o dia estava quase a nascer, que parecia ir estar bom tempo, que as ruas iam estar cheias de gente, que o iam olhar e não os sabia ainda ignorar.
Imaginei-o a pensar que se ao menos não tivesse tanta fome talvez fosse mais fácil, tinha de aprender a controlar o medo da fome, ia ter fome muitas vezes daí para a frente enquanto não aprendia a desenrascar-se melhor.
Imaginei-o na dúvida se deveria comer as suas duas últimas laranjas ou deveria continuar a guardá-las para quando a dor no estômago fosse insuportável, ainda tinha vergonha de pedir, ainda se encolhia perante os olhares curiosos, ainda estupidamente sentia que deveria pedir desculpa por estragar a paisagem com a sua imagem pobre e triste.
Imaginei-o a recordar a sensação de ter cama e a perguntar a si mesmo como era possível uns dias apenas sem cama lhe parecerem uma eternidade?
Imaginei-o a lembrar que um tecto e umas paredes na hora do sono o faziam sentir seguro e protegido.
Imaginei que a sua a angustia não se deixava vencer pelo cansaço e por mais que tentasse dormir não conseguia.
Imaginei que não tinha sido o álcool, nem as drogas, nem o jogo, nem a doença a leva-lo naquele dia, aquele passeio.Imaginei algo bem mais simples, pobreza simplesmente!
Imaginei-o sem emprego e sem dinheiro sem uma família e sem amigos para ajudar num mundo com tanto de belo como de cão.
Imaginei-o a perder as primeiras coisas, a vender os primeiros móveis, a TV, o rádio do carro, o carro.
Imaginei-o já sem outra solução senão perder também a casa e sem ter para onde ir.
Que faz um homem quando isto acontece?
Que faz um homem quando isto acontece, meus senhores?
Alguém me diz?
Ouçam!
Escutem-me, respondam-me!
Que faz um homem quando isto acontece?
È que acontece mesmo.
Acontece.
Eu sei.
Eu vi.
Não sei se foi como imaginei mas sei que acontece.
Eu vi.
Que faz um homem quando lhe acontece a ele?
Ele não soube o que fazer, comeu as laranjas e acabou por adormecer exausto à hora de almoço num passeio bem iluminado nas avenidas novas de Lisboa no meio de dezenas de formiguinhas atarefadas e sorridentes.
Eu era uma delas.
Tristemente.
Envergonho-me disso.
Olhei-o, pensei no quanto devia estar cansado para ter adormecido num lugar tão pouco acolhedor, memorizei a sua imagem acompanhado das laranjas e tal e qual como todos os outros segui o meu caminho.
Segui caminho como fizeram todos os outros.
Segui mas perturbada.
Uns metros à frente, telefonei ao meu amor do meu telefone de marca e disse-lhe que me sentia mal por tê-lo feito.
Achei que até podia estar morto e eu não tinha parado para ver, para me certificar que estava bem.
Que raio de monstrinho era eu?
No que é que me tinha tornado?
A voz segura e carinhosa no telefone dizendo-me que ele estava bem com certeza e estaria apenas a dormir não foi suficiente para me descansar.
A imagem dele e das suas laranjas não me saia da cabeça.
A visão de mim, seguindo as outras formigas tão monstruosas como eu sem sair do carreirinho para ao menos lhe tocar no ombro e perguntar se estava bem, perturbava-me.
Não o quis acordar é verdade, quis preservar o seu sono que imaginei ter sido difícil de alcançar mas isso não chega para justificar não ter sequer parado.
Como podemos nós ter-nos tornado nisto?
Que mundo é este e que seres estranhos o habitam.
Um homem aparentemente adormecido no meio do passeio à hora de almoço acompanhado por laranjas bem laranjas ajudando a dar cor à desgraça e ninguém pára para ver se ele está bem?
Porquê?
Não sei explicar porque não parei.
Sei que não o fiz.
Sei que isto se passou na semana passada e não consigo deixar de pensar nele, não consigo afastar a sua imagem, não consigo parar de me perguntar porque não parei.
Nesse dia quando regressei pelo mesmo caminho ele já lá não estava.
Olhei à volta para ver se o encontrava por perto mas ele tinha partido.
Não voltei a vê-lo e não vou esquecê-lo nunca.
Falei dele várias vezes depois disso e prometi a mim mesma que iria escrever sobre ele.
Iria pelo menos dedicar-lhe esse tempo da minha vida.
Estou aqui a escrever sobre ele.
Com decência.
Com a decência e o carinho que ele merecia e não lhe soube dar naquele dia.
Fui indecentemente fria.
Estou a ser decente e carinhosa agora.
Escrevo com toda a decência que me é possível encontrar nas palavras.
Escrevo com todo o carinho, com todo o carinho que encontrei no meu coração.
Escrevo com vergonha, uma vergonha que quero aqui assumir perante vós.
Escrevo com arrependimento tentando perdoar-me.
Escrevo com esperança de nunca mais seguir o meu caminho sem parar quando alguém pode precisar de ajuda.
Há que parar.
Há que olhar à volta.
Há que não inventar desculpas.
Há que estar atento.
Há que ajudar.
O mundo somos nós que o fazemos esta é a verdade.
O mundo não é cão como tantas vezes lhe chamamos, se fosse cão seria bem melhor.
O mundo é assim porque nós o fazemos assim.
O que faz um homem quando isto lhe acontece?
A sério.
Pensem.
O que sente um homem quando isto acontece?
O que faz?
Eu não sei.
Tenho uma certeza.
Gostava que alguém parasse por mim.
Gostava que alguém se desviasse do caminho por mim.
Gostava que alguém me estendesse a mão.
Eu não o fiz nesse dia.
Vou fazer daqui para a frente.
Façam também!


Isabel


Para o homem das laranjas com um pedido de desculpas.

Fotografia da minha querida Bettips
Façam de conta que são laranjas... para mim são!