Recusa
Hoje escolhi dizer não
Não
Não
Não
Não quero ir por ai
Vou por aqui
vou dar-me e dar a mão
e apertar os dedos
do meu amor
num entrecruzar
de dedos
forças
e cansaços
e vou por aqui
não vou por ai
vou por aqui
e não vou só
Vou a caminho de casa
vou acertar o passo
e num abraço dar o braço
ao meu amor
acertar
caminhos
percurssos
e atalhos
e "vamos" por aqui
a caminho de casa
Não vou por ai
Não vou por ai
Vou por aqui
A caminho de casa
e não vou só
Isabel
Cântico Negro
"Vem por aqui"
— dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "Vem por aqui!
"Eu olho-os com olhos lassos,(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí!
Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "Vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide!Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria,tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "Vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
José Régio
Não
Não
Não
Não quero ir por ai
Vou por aqui
vou dar-me e dar a mão
e apertar os dedos
do meu amor
num entrecruzar
de dedos
forças
e cansaços
e vou por aqui
não vou por ai
vou por aqui
e não vou só
Vou a caminho de casa
vou acertar o passo
e num abraço dar o braço
ao meu amor
acertar
caminhos
percurssos
e atalhos
e "vamos" por aqui
a caminho de casa
Não vou por ai
Não vou por ai
Vou por aqui
A caminho de casa
e não vou só
Isabel
Tandi Venter
Cântico Negro
"Vem por aqui"
— dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "Vem por aqui!
"Eu olho-os com olhos lassos,(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí!
Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "Vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide!Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria,tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "Vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
José Régio
8 Comments:
podes ter a certeza, não vens só!
Beijos
podes dizer não ao que queiras,
desde que acertes o passo, e venhas para casa. chuakkkkkkk
:) és sim uma pessoa especial :))
um beijo
Van
:)
Vai por aqui, Isabel!
Tens um blog lindo
5 homens do norte
Vozes da Radio
Bonito sítio para vir ficar um bocadinho...
Gostei muito dos poemas e da imagem.
Obrigada pelo convite e pela partilha!
O estado de alma da isabel é o de uma alma paixonada à solta, mas muito presa ao real. Chega a ser estonteante, de tão fortemente que nos abre o coração. O que escreve tem que se ler devagarinho...
fico contente pelos estados-de-alma a que se vão sem sabermos
e nos atalhos, há sempre caminho de regresso **
adoro josé régio!!
Boa tarde por aqui
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