sexta-feira, setembro 15, 2006

História para crianças e para adultos



Hoje chega a Carolina, a minha amiga de 9 anos , de quem sou a "madrasta boa".
Estou contente por ela estar a chegar, e por isso escrevi-lhe esta história
Para ti Carolina:

História de uma gota sem cor

Era uma vez uma gota que caminhava pelo mundo, triste e sozinha.
Olhava tudo em seu redor e com os olhos muito abertos perguntava-se:
É tudo tão bonito, tão colorido, só eu nem tenho cor...
É tudo tão diferente , tão distinto, só eu sou igual a tantas outras, nem sei o que sou
Sou gota de quê afinal?
Enquanto amargurada caminhava, mesmo ao seu lado caiu
uma gota amarela, era uma gota de tinta e tinha caido de um rolo de pintar com que restauravam um prédio antigo.
Que bonita que tu és! Tão amarela e alegre!
Olha para mim não sei de onde venho, e nem sequer tenho cor!
Sou uma gota de tinta, respondeu-lhe a gota amarela.
Conversaram por uns minutos mas depressa viram que pouco tinham em comum.
A gota sem cor seguiu caminho e a gota de tinta amarela deixou-se ficar secando no chão.
Um pouco a frente, estava uma bicicleta caida no chão e já de pé um miudo corajoso raspando a poeira das calças, e pondo saliva nos arranhões provocados pela queda.
Curiosa a gota aproximou-se e
viu uma gota encarnada.
Que bonita que tu és! Tão encarnada e viva!
Olha para mim não sei de onde venho, e nem sequer tenho cor!
Eu sou uma gota de sangue respondeu-lhe a gota encarnada.
Ficaram entretidas a conversar, a gota de sangue era uma gota cheia de histórias para contar.
Mas tambem com ela a gota sem cor percebeu que pouco tinha em comum e mais uma vez cada vez mais triste continuou caminhando.
Descendo um prédio apressada vinha uma linda rapariga.
Meu deus como ela era linda, pensou a gota.
E tem tantas cores!
Lindos cabelos negros, longos, brilhantes caindo pelos ombros.
Lábios muito carnudos e rosados.
Os olhos tão azuis que pareciam o céu.
E um maravilhoso vestido verde de cetim
contrastando com a brancura da sua pele.
A gota sem cor estava encantada, escondeu-se para observar melhor a linda mulher que apressada corria para um carro parado em frente ao prédio, parecendo esperar por ela.
Mesmo no seu esconderijo, quando a mulher passou, quase lhe caiu em cima uma estranha gota azul muito, muito claro.
Era uma gota de perfume, cheirava tão bem.
Era um cheiro docinho, quente e muito intenso.
A cheirar assim bem pode ter pouca cor, pensou a gota sem cor.
Olá ! Que bonita e principalmente que cheirosa que tu és!
Olha para mim não sei de onde venho, e nem sequer tenho cor!
Eu sou uma gota de perfume.
A Ana deixou-me cair. Está muito apaixonada e ia a correr apressada. Sabes, ele não gosta nada, mesmo nada de esperar.
E agora com esta pressa toda eu vou-me evaporar.
Lá ficaram as duas a conversar sentadas à porta do prédio.
As horas foram passando e a gota de perfume cada vez estava mais pequenina.
Cada vez menos cheirosa.
A gota sem cor ficou a fazer-lhe companhia até que ela desapareceu por completo.
Preparava-se para se fazer de novo ao caminho, quando voltou a ouvir um motor de um carro.
Era o mesmo.
A linda mulher saiu, mas desta vez o seu passo já não era apressado.
A porta bateu.
O carro acelerando desapareceu.
E encostada à porta do prédio deixou a linda mulher chorando.
Que se terá passado? Pensava a gota sem cor novamente no esconderijo.
Ainda não sabia nada da vida, nem imaginava o que podia fazer alguem tão belo chorar.
Estava nestes pensamentos quando uma gota, assim com ela, tambem sem cor caiu mesmo junto de si.
Que susto!
És igual a mim!
Tambem não tens cor.
Eu sou uma lágrima disse-lhe a gota.
De imediato sentiram uma enorme empatia uma pela outra.
Achas que eu tambem sou uma lágrima?
Claro que és!
Não sabias?
Não, Não sabia. Andava triste não sabia de onde vinha.
E ainda por cima não tenho cor.
Eu vim do coração da Ana, respondeu-lhe a outra lágrima.
Quanto a não ter cor, aí enganas-te...
Uma lágrima é da cor da alma de quem a chorou.
Eu tenho mil cores, disse a lágrima que tinha rolado pela face da Ana.
Então a lágrima triste ficou alegre...
Lembrou-se que era uma lágrima de alegria.
Vinha do riso da Carolina, quando abraçou o pai cheia de saudades.
E era uma lágrima com tantas cores como as cores do
mundo inteiro.
Era uma lágrima tão bela e colorida como a alma da Carolina.

Isabel

7 Comments:

Blogger eu... said...

vim agradacer a tua visita ao meu blog e fiquei sem palavras... que história tão linda...adorei... parabéns pelo blog... vou voltar mais vezes. bjos e bom fim de semana.

sexta-feira, setembro 15, 2006  
Blogger Aldina Duarte said...

A Voz e o Silêncio

"gota a gota na varanda
seca a chuva distraída
quem nos pede quem nos manda
não dar voz à própria vida"

(Esta é uma quadra dum dos fados escritos por mim no meu primeiro disco "Apenas o Amor")

Que bom!, a Carolina tem uma amiga para lhe contar e inventar histórias bonitas!

sexta-feira, setembro 15, 2006  
Anonymous Anónimo said...

obrigado por esta historia tão bonita, e por seres tão minha amiga. gosto muito de ti quero estar contigo sempre.


carolina

sexta-feira, setembro 15, 2006  
Anonymous Anónimo said...

chuakkkkkkkkkkkkkk
muito bonita a tua historia.
mil beijos
adoro-te

sexta-feira, setembro 15, 2006  
Blogger Unknown said...

Olá, Isabel!
Aceitei o teu convite! Vim de "maré em maré" até ti! E encontrei alguém que, não sendo mãe, tem uma amiga de 9 anos a quem conta histórias...
Eu demorei por aqui como se fosse a tal criança.. apesar de adulto!

daniel

sábado, setembro 16, 2006  
Blogger Luigi said...

agradeço a tua passagem pelo meu espaço tão perdido quanto a gota estava até tomar conhecimento de que era uma lágrima de alegria que rolou do rosto da Carolina. Fantástica este conto, fiquei abismado :)
Um dia irei contá-la ao meu sobrinho quando for mais crescido, apesar de ser um conto para todas as idades.
senti-me muito cativado aqui no "estados-de-alma" e voltarei concerteza

baci per te

sábado, setembro 16, 2006  
Blogger Vida said...

Gostei da tua visita e vim visitar-te, encontrei uma linda história que vou contar ao meu filho mais novo. Continua a escrever assim para nos deliciares.

Beijinhos.

domingo, setembro 17, 2006  

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