sexta-feira, outubro 13, 2006

Histórias de aprender e encantar

A Carolina ( a menina de quem sou madrasta e amiga) desta vez só vem para a semana mas prometido é devido. Uma história de 15 em 15 dias. Esta é a 2ª aventura da Carolina e da Princesa Lia. Fica aqui uma nota: Esta história fala de bruxas com naturalidade e sem preocupações de afectar a crença ou descrença de cada um. É apenas uma história. Peço desculpa aos que não acharem educativo ou moralmente correcto. Eu acho.
Eu acho que a aprendizagem das crianças deve basear-se na bondade e na pureza de sentimentos e não na moral ou no que é socialmente bem aceite.
Aqui vai, para aprender encantar e divertir... como deviam ser todas as histórias.
Mais uma vez para ti Carolina.


Carolina conheçe a Bruxa Vrumm

Era um daqueles dias escuros e chuvosos que todas as crianças odeiam por os adultos, sempre demasiado cuidadosos, não as deixarem ir para a rua brincar. A Carolina não era excepção, o pai e a madrasta da Carolina também não.
“Hoje é dia de ficar em casa sossegados, não há corridas nem “chapinhanços” nas poças, para ver se não ficas doente. Podemos ver um filme ou fazer um jogo mas rua com tanta chuva é que não”, tinham-lhe dito.
A Carolina contrariada mas obediente aceitou. Esperava impaciente que acabassem de ver um filme na televisão antes de irem os três jogar um jogo, quando teve uma ideia.
“Vou visitar a Princesa Lia a Naturália!”
“Enquanto eles vêem o filme vou brincar com a Lia.” Pensou ganhando um sorriso maroto.
Deitou-se na cama e iniciou a brincadeira. A sua imaginação foi-a levando, levando, levando, até se encontrar correndo pelos campos procurando a nova amiga.
Em Naturália era Verão. O dia era de sol e toda a natureza parecia brilhar reflectindo o brilho dos seus raios. As árvores, as flores, os riachos, as plumagens dos pássaros, tudo, tudo parecia imensamente belo, colorido e brilhante como se com beleza a natureza retribuísse ao sol o calor e a luz dos seus raios.
"Lia! "
"Lia , onde estás? "
"Lia, estás escondida?"
Ia gritando a Carolina ao mesmo tempo que abria a boca de espanto perante a tamanha beleza daquele sítio.
Até que a ouviu. Seguiu o som das gargalhadas e ali estava ela rebolando na relva a rir agarrada à barriga. Com ela estava uma senhora com cabelos longos de cor avermelhada e uma túnica amarela salpicada de missangas douradas. A senhora tinha um ar misterioso talvez por ser imensamente luminosa. Parecia também ela brilhar com a natureza.
"Olá Lia." disse a Carolina envergonhada.
"Olha a Carolina! "
“Oh miúda que bom que cá vieste!” A risonha da princesa deixava perceber o espanto e uma enorme alegria com a visita da amiga.
“Olha Carolina esta é a Vrumm, chamamos-lhe assim porque gosta de andar na bicicleta a imitar o som de uma mota, tás a ver Vrumm, Vrumm, Vrumm…” Imitava bem disposta falando e rindo ao mesmo tempo.
"Bonita a Vrumm não é? E uma bruxa boa. Alguma vez conheceste alguma bruxa?"
A Carolina não sabia o que dizer.
Tinham-lhe dito que as bruxas não existiam.
E mesmo nas histórias as bruxas eram todas más e feias e aquela feia não era e se fosse má a Lia não ia estar a rir com ela.
Percebendo o embaraço da amiga a Princesa continuou.
“ Vrumm esta é a Carolina, lembraste?” “Aquela amiga que fiz quando fui lá aquele reino estranho chamado Portugal”
“ Reino não País, já te ensinei isso, Lia.” Apressou-se a explicar a Carolina.
“Isso País. Desculpa amiguinha!” Reconheceu sem nenhum problema a Lia.
“És mesmo uma bruxa?” Perguntou a Carolina não conseguindo disfarçar a curiosidade.
“Claro! Sou a bruxa mais conhecida aqui de Naturália. Todos sabem quem eu sou porque eu e a Lia passamos os dias aqui brincando pelos campos.”
“Mas as bruxas não são más?”
“Mas as bruxas não são feias e com um ar maldoso para meter medo?”
“As bruxas não estão sempre zangadas e mal dispostas?”
“Olha, a sério, eu pensava que as bruxas não existiam a não ser nas histórias!”
A Carolina bombardeava a bruxa Vrumm com perguntas e só parou quando reparou que a Lia e a bruxa se estavam a engasgar tentando controlar o riso.
“Ai estas miúdas lá desses sítios estranhos! Ai, ai deixa-me rir.” Dizia a bruxa abanando os lindos cabelos vermelhos e rindo divertida.
“Não lindinha, nada disso. Senta-te ai que eu vou-te explicar.”
A Carolina sentou-se debaixo de uma enorme figueira.
Com os olhos tão abertos quanto a sua curiosidade aguardava calada pela explicação.
A bonita bruxa aguardou o silêncio e depois numa voz que parecia um melodioso canto começou:
“As bruxas como todos os seres podem ser mais feios ou mais bonitos. A beleza não está na aparência mas sim cá dentro.” Falou batendo levemente com a mão no peito.
“As bruxas podem ser más ou boas, como todos os seres.”
“Uma bruxa é uma pessoa como as outras apenas diferente por conseguir falar e escutar a voz da natureza. A bruxa é uma pessoa com uma ligação muito forte à natureza.”
“Por exemplo: Tu não sabes o que aquele pássaro que esta em cima desta árvore esta a pensar pois não?”
“Não, claro que não? Não entendo nada daqueles piados.”Respondeu a Carolina com um ar intrigado.
“Pois, mas as bruxas entendem.” Disse suavemente a Vrumm.
“Então que está ele a pensar?” Perguntou de imediato a Carolina cheia de curiosidade.
“Está a pensar que lhe sabe bem este sol pois esteve a brincar no riacho e precisa secar as penas.”
“Como sabes?” Continuou a criança falando alto e aceleradamente já não conseguindo mais evitar a excitação que sentia.
“Sei. È fácil basta ouvir.” Respondeu a bruxa baixando o tom da voz.
“Tenta tu. Schiuuu… não faças barulho e escuta o passarinho com atenção.”
“Então que te disse ele?” Perguntou olhando para a menina sorrindo enquanto esperava a resposta.
“Acho que me disse que agora que já está seco gostava de comer qualquer coisa pois a brincadeira no riacho abriu-lhe o apetite.” Respondeu a Carolina pouco segura.
“Boa!”
“Maravilhoso!”
Elogiava a bruxa batendo palmas e dando uma volta a rodopiando em volta da enorme figueira.
“Se não me ponho a pau vais-te tornar uma bruxa melhor que eu.”
“Como vês para entender a natureza basta olhar, escutar, e principalmente ter vontade de aprender. A natureza está sempre a falar connosco e a mostrar-nos coisas, nós é que não paramos para ver e ouvir o que tem para dizer.”
A Carolina estava maravilhada e sem palavras.
“Podes falar miúda.”
“Acorda!” Dizia a Princesa sempre a brincar.
“Vês as bruxas não são feias nem más, são apenas pessoas com mais paciência para escutar a natureza.”
“Então e como fazem os bruxedos?”
Perguntou a Carolina ainda não convencida.
“Da mesma forma!” Respondeu a bruxa.
“Os bruxedos são poções mágicas como é o chá que a avó te faz quando estás constipada.”
“Faz-te sentir melhor ou não?”
"Sim, alivia muito." concordou a menina .
"Pois, vês isso é bruxedo, ou magia." Explicava a bela bruxa.
“As bruxas boas quando vêem alguém sofrer perguntam à natureza como podem ajudar e a natureza responde. Simples não é?”
“E então qual é a diferença entre uma bruxa boa e uma má?” Continuava interrogando a Carolina.
“Tanto as bruxas boas como as más escutam e vêem os sinais da natureza, a diferença é que as boas usam o que aprendem para fazer o bem e as más para fazer maldades.
“A Vrumm é uma bruxa muito boazinha e além disso é super divertida.” Explicou a princesa.
“Pois, pois, então que acham de ir-mos brincar a adivinhar o que dizem os animais que formos encontrando, é divertido e vamos aprendendo coisas novas?” Sugeriu a bruxa .
“Boa! Muito Fixe!” disse a Carolina pondo-se de imediato em pé, não reparando que no local onde estava sentada deixava imensas folhas soltas, pertenciam às dezenas de trevos de 4 folhas que sem reparar se tinha entretido a arrancar enquanto escutava a explicação da Bruxa.
Viram primeiro um caracol.
“Olha um caracol o que está ele a dizer oh, Vrumm?” Perguntaram ao mesmo tempo as duas meninas.
Está a dizer: “Espero que estas miúdas não sejam daquelas que se divertem a pisar caracóis.”
He, he, he. Riram as três divertidas com a brincadeira
“Olha ali um pato vamos saber o que diz ele!” Gritavam as duas meninas, correndo, entusiasmadas com a brincadeira, em direcção a um pequenino pato amarelo.
“Então Vrumm que diz o pato?”
Diz: “ Onde está a mamã e os manos? Lá os perdi outra vez! “
“Não acham que o devíamos ajudar a procurar?” Perguntou a Bruxa.
"Claro, claro! Vamos a ajudar o patinho bebé e depois de lhe encontrar-mos a mãe eu tenho de ir para casa que o pai e a Isabel querem jogar um jogo comigo. " Respondeu logo a Carolina contente por ir ajudar o patinho.
Deram uma pequena volta e lá estava a mãe pata e os irmãos também eles procurando o patinho perdido.
Bastou baixar um pouco os arbustos mais altos para que a mãe visse o filhote e fosse correndo com os manos todos a traz.
A família de patos de novo reunida e feliz ficou por momentos olhando fixamente para as duas meninas e para a bruxa Vrumm. A Carolina ia jurar que tinha escutado a pata mãe dizer: “Obrigada, às três. Muito obrigada.”
“Vêem? Se escutarmos o que diz a natureza pode ser divertido e ainda podemos sentir-nos bem por ajudar.” Disse a Vrumm
“Tens razão.”
“Gostei bué de vir aqui”.
“Vou voltar mais vezes.” Respondeu a Carolina afastando-se a acenar.
“Adeus Carolina volta depressa! "Gritavam em coro a Princesa Lia e a bruxa Vrumm.
Logo de seguida ouviu o pai chamando.
“Bora Carol, vamos ao nosso jogo!”
Saltou da cama e foi correndo para os braços do pai pronta para uma nova brincadeira.
Mais tarde iria contar ao pai e à Isabel o que tinha aprendido lá em Naturália com a princesa Lia e a bruxa Vrumm.


Isabel

"O Verão"
Marc Chagall

13 Comments:

Blogger veritas said...

Olá Isabel!

Mais uma maravilhosa história que prova a encantadora personalidade de que és possuidora. Orgulha-me ser a primeira a comentar. Bom fim- de-semana para ti.

Bjs.

sexta-feira, outubro 13, 2006  
Anonymous Anónimo said...

cada vez melhores as tuas historias...
adorei...
mil beijos doces

sexta-feira, outubro 13, 2006  
Blogger Pierrot said...

Historia linda
Ela vai adorar de certeza, se é que já não lhe contaste.
E acredita que é uma belissima forma de desmistificar as bruxas.
Olha, infelizmente, comigo não foi bem assim. Já não me lembro bem mas era um livrinho cmo alguns desenhos e uma bruxa que tinha uma casa feita de chocolates e rebuçados e atraía as crianças para lá que engordavam de tal forma que já não conseguiam sair pela porta e depois iam pro caldeirão.
Coisa horrivel mesmo.
Até tinha medo de desfolhar o livro.
Mas desta Vrum Vrum tasse bem ehehe.
Bjos aqui
Eugénio

sexta-feira, outubro 13, 2006  
Blogger Delfim Peixoto said...

Bem....para além da históra dou-te os parabéns por teres o dom de receber no teu coração a destinatária ....
A história só prova que tens uma boaalma e por isso, eu gosto de ti
bjs ternos

sexta-feira, outubro 13, 2006  
Blogger aqui-há-gato said...

E quem não gosta de uma histórinha antes de nanar?
Para começar gosto dessa tua/vossa cumplicidade... Senti que eras mesmo amiga da Carolina.
A moral está em cada um, e não no conteúdo da, ou das histórias...


Ah... Só sei ser eu...Para o bem e para o mal:))
Não consigo manter um discurso coerente... Nem tento sequer:)))

Beijinho e bom fim de semana

sexta-feira, outubro 13, 2006  
Blogger Aníbal Duarte Raposo said...

Linda história. Obrigado pela visita ao meu blog www.apalavraeocanto.blogspot.com

sexta-feira, outubro 13, 2006  
Blogger as velas ardem ate ao fim said...

A historia é linda, espectacular a Carolina vai adorar!

Agora Tu não és madrasta és Amiga.Não gosto da palavra.(Já fui Amiga de uma menina tb.)

bfs

sexta-feira, outubro 13, 2006  
Blogger Marina said...

Ola Isabel!
Obrigada pela visita la ao meu sitio, so agora tenho tempo para retribuir...
Bela historinha!
Prometo que amanha irei ler com mais atençao!
Beijitos

sexta-feira, outubro 13, 2006  
Blogger Teresa Durães said...

A historia é linda!!!!

Boa noite!!

sábado, outubro 14, 2006  
Blogger P. Guerreiro said...

A Carolina é uma miúda cheia de sorte.
E eu aproveito a sorte da Carolina para contar mais uma história à Mariana.
Gostei muito, continua essas tuas viagens...Os miúdos agradeçem...Grandes e pequenos!

Um abraço e bom fim de semana.

sábado, outubro 14, 2006  
Blogger Bruna Pereira Ferreira said...

Não há nada melhor do que ver olhinhos brilhantes a ouvir-nos uma estória inventada com um sorriso de orelha a orelha. Não sou mãe nem madrasta, mas sou babbysitter.
É bom voar com as crianças.
As suas vassouras são as melhores.

Bjinhos.

segunda-feira, outubro 16, 2006  
Blogger Alberto Oliveira said...

É uma história que qualquer criança gostaria que lhe contassem. E os adultos também a deviam ler; para aprenderem que o universo da fantasia infantil não deve ser esquecido usando o recurso à moralidade instituida e não permitindo futuros de criatividade.

Parabéns!

abraço e uma óptima semana!!

segunda-feira, outubro 16, 2006  
Blogger inBluesY said...

hoje não li, mas só para dizer que ainda no domingo estivemos no Guincho chovia, melhor choviscava, e havia meninos, e gaivotas e agasalhos... lindo sabes :)

segunda-feira, outubro 16, 2006  

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