Canto às asas
Nada
nasci sem nada
sem nada
morrerei
nada trago comigo
nada levo
nada deixo
nos mundos por onde passo.
nada tenho
nada é meu
nem o mar
nem o céu
nem as arvores
nem os pássaros
nem o amor
nem a amizade
nem a dor
nem a felicidade
nada é meu
nem eu.
minhas
apenas
as asas
com elas
viajo por todos os mundos
com elas
escrevo todos os livros
com elas
amo todos os amores
com elas
voo todos os voos
minhas
apenas
elas
as asas
nada tenho
nada é meu
nem os olhos
nem a boca
nem a pele
nem as folhas
nem o papel
nem o leite
nem o mel
nem o enfeite
nem o fel
nada é meu
nem eu
minhas
apenas
estas
asas
quando
partir
para o descanso final
irei voando
eu
e as minhas asas
leve
despojada
de corpo
continuarei
só alma
e asas
voando
novos céus
que também não
serão meus
minhas
só as asas
com elas voltarei
sempre
voando
para ti
serei corpo
serei alma
nada
apenas
asas
sou asas
e voo
Isabel
nasci sem nada
sem nada
morrerei
nada trago comigo
nada levo
nada deixo
nos mundos por onde passo.
nada tenho
nada é meu
nem o mar
nem o céu
nem as arvores
nem os pássaros
nem o amor
nem a amizade
nem a dor
nem a felicidade
nada é meu
nem eu.
minhas
apenas
as asas
com elas
viajo por todos os mundos
com elas
escrevo todos os livros
com elas
amo todos os amores
com elas
voo todos os voos
minhas
apenas
elas
as asas
nada tenho
nada é meu
nem os olhos
nem a boca
nem a pele
nem as folhas
nem o papel
nem o leite
nem o mel
nem o enfeite
nem o fel
nada é meu
nem eu
minhas
apenas
estas
asas
quando
partir
para o descanso final
irei voando
eu
e as minhas asas
leve
despojada
de corpo
continuarei
só alma
e asas
voando
novos céus
que também não
serão meus
minhas
só as asas
com elas voltarei
sempre
voando
para ti
serei corpo
serei alma
nada
apenas
asas
sou asas
e voo
Isabel
"O voo"
Marc Chagall
18 Comments:
muito bonito
o teu voo
e o de chagall
"minhas
só as asas
com elas voltarei
sempre
voando
para ti"
fáz isso...
depressa...
beijos grandes
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Olá Isabel!
Sim. E porquê? Porque há, efectivamente, algo que nunca nos podem tirar, porque não é matéria...
Pois! Depois eu é que sou escritor (modesta...rsrsrs).
Não só da matéria vivemos...e não só de matéria somos...tudo o que já sentimos é nosso, e isso, ninguém nos pode roubar.
Escreves com o lápis de um poeta.
Um sopro sentido
Quem dera ter umas asas
p´ra um dia poder voar
voar por cima das casas
com gentes a lá morar.
Com gentes a lá morar
a vir verem-me à janela
"como ele gosta de voar!"
dizia ele para ela.
Dizia ele para ela
e beijava-a com ardor
entretinham-se à janela
a ver voar o amor.
Alberto/Legível
Boa noite!
Sem nada e no entanto com tanto...
Kiss, até outro instante!
Isabel.... comoveste-me com a tua sensibilidade...afinal sou humano, né?
Belo!
bjs ternos
líndissima a pintura de Chagall que não conhecia
muito bonita a tua expressão. penso como tu. somos poucos a pensar deste modo. é pena.
boa noite!
Gostei Não fales de morte.Ainda és muito nova...para falares assim.
Vive a vida e canta-a.
Bj d
d :(
Fiz um intervalo[zeco] da dita greve e vim aqui sentir a brisa das tuas palavras...
..
:) :) :)
Voa Sempre..
Seja para onde for.
Seja no que for.
Seja o que esse for seja
Mas, voa!
Um abraço desassossegado para ti **
Passei para ver esta agradável e sempre interessante página, onde me delicio nesta madrugada, e também para desejar bom fim-de-semana. Muito bonito.
"Não tenho ambições nem desejos.
Ser poeta não é uma ambição minha.
É aminha maneira de estar sózinho"
Alberto Caeiro
Também sem asas se consegue voar...
Um abraço e bom fim de semana!
Nada é nosso, na verdade. Mas ter asas é ser privilegiada. Tens muito, afinal! **
Realmente não temos nada, e alguns nem asas têm.
Bom dia miuda marinheira! :)
E que alegria é voar e não precisar de ter qualquer mundo como nosso, para pousar!
Adorei o teu poema!
Aprendi a palavra desapego há ainda poucos anos :) vivi formatada numa outra versão durante bastantes anos, onde era habitual eu sentir com orgulho "a minha casa" "as minhas flores" e por aí adiante...
Descobri depois que as casas se podem transformar em prisões e que flores, as há, felizmente aos montes, por esse mundo fora e só para nos darem alegrias! :)
Descobri lentamente a palavra desapego por dentro :) e isso foi a minha grande libertação :) ainda eu não tinha lido nada sobre budismo e já punha em prática as lições :)
Julgo que me desfiz de tudo e estava de mochila pronta para a travessia do mundo, quando tropecei no meu gajo...e voltei a precisar de tudo :) mas sabes? agora já não uso a palavra "minha" antes da palavra casa :) já aprendi que a casa é apenas o sitio onde estou de passagem :) e que nunca se sabe, se volta a ser prisão :)
Por isso voemos livremente, sem nada nosso a não ser o sonho de pousarmos todas as noites em quem nos ama e nós amamos :)
O resto é apenas paisagem!
:)
Beijos e bons vôos!
Van
A melhor descrição que li até hoje da liberdade... como deve ser bom ser dono só das nossas asas e voar... Lindo este texto.
Beijos e bom fim de semana.
As asas que esperamos ver crescerem no regresso à eternidade serão a sombra viva duma morte descansada na terra paciente e elucidada sobre tudo oq ue é existência!
Até sempre!
"Voa... e um dia nos encontraremos no meio de alguns desses céus numa festa que não poderá terminar"...R.Bach
Perfeito.
Bjos daqui
Eugénio
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