sexta-feira, outubro 06, 2006

A margem da Alegria II

Hoje que é dia de nascer
hoje que se celebra um nascimento
de amor

celebremos amando
amando o poema
o poeta
a poesia

paremos pois
para continuar a
apreciar
saborear
a amar
“A margem da alegria”
e
Ruy Belo
e nele
todos os poemas
todos os poetas
a poesia
toda

vamos parar pois
tomando o tempo nos braços
levando o tempo e os pedaços
deste poema num longo e terno abraço

Silêncio, deixemos falar o poeta…
Schuuuuuu….

A margem da alegria (excertos)
II

quando não só as salas mas as vidas não ficavam
de repente vazias de convivas
que temiam olhar uns para os outros e medir nesse olhar
as dimensões da solidão
e só sentiam como algum remédio para a solidão
abrir as salas aos nocturnos bois dos campos circundantes…

quando a solidão não era vocação exclusiva dos poetas
mas até de roseiras e agapantos glicínias certas árvores …

quando as lágrimas não eram nesse tempo densas e
fechadas como pedras
nem deixavam nos rostos indeléveis como
de certo modo deixam no trilho do seu canto os rouxinóis.

quando não era solução a solidão conjunta dos conventos
mas eram lágrimas ou caras solidárias de vagares de um
certo convívio com o mal
e a esperança que existia que servia a sua boa hora
e se dizia boa tarde com a consciência de que se dizia adeus
às vezes sem saber-se que era para sempre que se dizia
adeus
e todo o tempo se passava em coisas de imaginação
sem arriscar demasiados movimentos
até pela simples razão de que as rajadas de luz
eram a bem dizer as únicas estradas
na maior simplicidade geográfica dos sítios…

quando era extremamente fácil comunicar com tudo
pois bastava existir ser natural afinal as maneiras mais
perfeitas de falar
e só havia em tudo um compromisso com a vida …

quando os deuses eram mansos e se lhes podia quase
passar a mão pelo dorso
e a própria noite vinha em quatro patas com os olhos
húmidos de um animal
e a natureza não era uma doença mas sim
uma alternativa de outro estado de ânimo
e a penumbra não era uma forma de sombra sombra
diluída que
no interior das casas sobe dos pés das mesas ou dos cantos
das cómodas
mas simplesmente um campo mais propício para a
imaginação
uma maneira de ver as coisas por dentro
de habitar salas ou a vizinhança de certas árvores…


Ruy Belo


Sempre que leio e releio Ruy Belo e este poema em particular
sinto que acebei de ter o privilégio de ler algo de uma beleza e encanto desmedido...
Quem foi este homem que escrevia assim?
Quem foi este homem capaz de ver assim o mundo?

Agradeço-lhe ter-me deixado através da poesia
ver um pouco do mundo como ele o via.

Isabel


" Les agapanthes"
Claude Monet

13 Comments:

Anonymous Anónimo said...

lindo para variar...
;-) mil beijos

sexta-feira, outubro 06, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Não conhecia mas é muito bonito. Já agora a um blog com muita poesia que é o cemremos,é muito bom. Bom fim de semana.

sexta-feira, outubro 06, 2006  
Blogger inBluesY said...

um doce.

sexta-feira, outubro 06, 2006  
Blogger Su said...

obgda pela partilha...adorei c.monet

jocas maradas

sexta-feira, outubro 06, 2006  
Blogger as velas ardem ate ao fim said...

Obrigada por tão extraordinário e amoroso post.

bjos e bfs

sexta-feira, outubro 06, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Passei por aqui para expressar o meu agrado em visitar esta interessante e atraente página e desejar bom fim-de-semana.

sábado, outubro 07, 2006  
Blogger Vanda said...

A marinheira agradece toda a tua força de adamastor!!!


Parece que a tempestade passou e que a viagem decorre agora com rumo a um bom porto :)

Esperemos que sim!

Porque há milagres :)


Obrigada do fundo coração e aqui fica o meu baijo de bom dim de semana!

Van

sábado, outubro 07, 2006  
Blogger veritas said...

Olá Isabel!

Poema sublime de Ruy Belo. Um bom fim-de-semana para ti. Reitero, adoro os impressionistas, Monet é dos meus preferidos. Penso que tens um elevado sentido do estético.

Bjs.

sábado, outubro 07, 2006  
Blogger OLHAR VAGABUNDO said...

monet lindo:)
palavras belas:)
e um beijo vagabundo para ti

sábado, outubro 07, 2006  
Blogger Maria said...

Sou quase assídua de alguns cantinhos por aqui. O trabalho por vezes não me deixa muito tempo para navegar, mas tenho o teu link e vou passando para te ler. O comentário por vezes é que não é fácil. Sinto porém o que escreves e o que pretendes transmitir.
Beijos para ti e um bom fim de semana

sábado, outubro 07, 2006  
Blogger Vanda said...

Gosto dessa menina que ainda és, dentro dessa mulher cheia de vida e amor que também és!

Essa menina que todas temos cá dentro a saltitar, outras vezes a dormir, esperando que o pano suba para poder brincar :))

Como o meu pai faleceu quando eu tinha 14 anos, tomei conta da minha mãe muito cedo... fui mãe sem o ser, fui velha sem o saber, fui palhaça por necessidade de riso, fui sabia para a poder entender...durante (nem sei que medida dar ao tempo) pronto, muito tempo, tive que deixar de ser eu, para ser outra, mais resistente e madura.Quando dei por mim, a menina há muito que estava adormecida e quem brincava, eram as minhas filhas!!

Retrocedendo no tempo e sendo sincera, digo-te que nunca fui a menina da minha mãe...nunca tive espaço para o ser e ela tão pouco, teve alegria para o querer...


Fui a menina do meu pai e essa foi sem duvida, a parte da minha vida, que me alimentou para as restantes...

Estou emocionada, desculpa, é que ele continua a fazer-me tanta falta!

Beijos muitos

segunda-feira, outubro 09, 2006  
Blogger Vida said...

Isabel, obrigada pela visita e palavras que me têm feito muito bem ao meu ego. Aquele poste foi sentido e sincero e não esperava palavras tão simpáticas mas vieram como pão para a boca.
Não conhecia este poema, adorei.

Beijinhos.

segunda-feira, outubro 09, 2006  
Blogger Aldina Duarte said...

A margem da Alegria é uma das lições que devemos aprender para o resto das nossas vidas, incansavelmente!


Até sempre!

terça-feira, outubro 10, 2006  

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