quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Começar de novo

Flor de jarra
As noites num hospital pouco têm a ver com os dias.
A agitação ruidosa dos dias esconde sons que a noite revela. Na calma aparente da noite, no seu falso silêncio, no seu angustiante sossego adensam-se as sombras.
A noite expõe o que o dia esconde com vergonha.
Desavergonhadamente fria é a noite no hospital.
Têm a mesma frieza com que são revestidos os seus longos corredores, a mesma frieza com que são pintadas as suas paredes, a mesma frieza que se entranha, vive, procria, nasce, cresce e se multiplica no tecido branco dos lençóis, a mesma frieza do excesso de branco que se espalha por todos espaços amplamente brancos e frios, ausentes do calor de cantos e recantos.
Branco na loiça, branco nas paredes, branco nas portas, branco no chão, branco nos lençóis, branco nas batas. Branco, branco, branco!
Branco pálido e frio gelando a vista e o coração. Tanta brancura gelada disfarçada de brancura imaculada. Tanta brancura fria, indiferente, fácil, inexpressiva, brancura de falta de cor, de amor e calor disfarçada de brancura de limpeza, desinfecção e higiene.
As noites são mais frias que os dias.
As noites são mais brancas que os dias.
Vão-se as visitas coloridas de penas, desejos e esperanças, vai-se a luz da vida que vive lá fora, fica apenas o hospital e a sua fria solitária e higiénica brancura.
Fica o hospital entregue a si mesmo.
O Hospital branco, as suas batas brancas vestindo de branco seres de todas as cores, as suas camas cobertas de branco e dentro de cada uma das suas camas brancas, por baixo de cada um dos seus lençóis brancos, pacientes de todas as cores cada um com o seu coração vermelho de sangue batendo.
Batendo, batendo a compasso. Tum! Tum! Tum! Tum! Batendo ao compasso da vida, mais fortes ou mais fracos, mas batendo e debatendo-se numa luta desalmada que só a noite deixa escutar.
Nas camas, nas enfermarias a luta é permanente. De dia e de noite os adversários enfrentam-se como num campo de batalha.
A vida e a morte, o desespero e a esperança, a dor e o alívio, a insónia e o descanso lutam corajosa ou cobardemente hora após hora, minuto após minuto, segundo após segundo.
O hospital não dorme nunca.
O hospital está sempre desperto.
Na escuridão da noite apura-se a visão temendo as sombras.
No silêncio da noite escuta-se cada som a solo e todos os sons em uníssono.
O hospital tem uma música própria, uma balada, uma sinfonia, um hino que todos, todos sem excepção, escutam quando deitados numa daquelas brancas enfermarias, numa daquelas brancas camas, cobertos por um daqueles brancos lençóis aguardando a noite passar.
Depois de um coma os sentidos, todos eles, aguçam-se, aperfeiçoam-se, apuram-se, elevam-se.
Vencedor da dura batalha com a morte regressa o guerreiro mais vivo e mais apto a defender a vida.
Depois do que a vida lhe custou a ganhar, sábio o guerreiro reforça as defesas para melhor a salvaguardar.
Assim se sentia Luísa, uma guerreira acabada de regressar do campo de batalha. Todos os sentidos despertos, toda a vida a pulsar nas veias a um ritmo, com uma força, com uma pujança nunca antes sentida.
Na sua cama, coberta com o seu lençol, sentia o corpo vibrante de vida.
Ondas de calor e de energia desconhecidas invadiam-lhe agora o ser.
Passava a mão pelo corpo e parecia-lhe ser capaz de sentir o sangue a correr desvairado pelas veias.
Sentia-se capaz de ver na escuridão e as outrora assustadoras sombras não a assustavam mais.
Na boca ansiosa dos sabores da vida reconhecia ainda o sabor agridoce da morte. Engolia em seco e as suas papilas gustativas pareciam gritar-lhe exigindo mais gostos, mais sabores, mais prazeres.
Respirava fundo.
Inspirava e expirava.
Cada vez que inspirava os cheiros eram tantos que era difícil conter a náusea.
Tantos cheiros têm um hospital! O desinfectante, o sangue, o medo, o desespero, a esperança forte ou vã e o cheiro fétido da morte eram os mais evidentes mas a estes muitos, muitos outros se misturavam.
A morte andava por lá caminhando com elegância, requinte e altivez pelos corredores, queixo levantado, costas direitas, dona e senhora ia marcando um território que já era parcialmente seu, ia largando o seu cheiro por todos os lados, quem não a via, sentia-a e cheirava-a.
Lá andava ela possuindo brutalmente uns, penetrando apaixonadamente outros, carregando docemente nos longos braços outros.
Caminhava com assumida nobreza pelos corredores do castelo que também era seu. Não se esgueirava, não se escondia, misturava-se subtilmente com as sombras do medo e da imaginação aguardando o seu momento, o momento de entrar na enfermaria, na cama, no, ser, na alma. Aguardava calmamente o momento de fazer seu mais um de nós.
Não havia desinfectante que lhe levasse o cheiro nauseabundo… a casa era sua, sua e de sua irmã vida. Dividiam a casa irmãmente mas era o cheiro da morte que mais se fazia sentir. Ali, naquela sua casa o seu território estava já marcado para sempre.
Havia ainda o som.
A música.
Luísa escutava tudo.
Cada gemido, cada apelo, cada grito.
Cada suspiro, cada alivio.
Cada reza, cada pacto, cada promessa, cada oração.
Luísa agora escutava tudo e sabia que o som daquela música não esqueceria nunca.
A música do hospital e a lembrança do bafo quente e malcheiroso da morte davam-lhe ganas de vida.
Davam-lhe ganas e saudades de vida.
Da vida e dos seus mais simples e mais deliciosos prazeres. Eram detalhes, detalhes apenas que lhe davam sabor.
Detalhes que em vida havia esquecido ou desvalorizado e que a experiência da morte a fizera recordar e valorizar de novo.
O brilho da luz da manhã por entre as persianas.
A água fresca no rosto.
A sua imagem no espelho.
O cheiro do café.
O pão coberto de manteiga.
O toque do telefone.
A voz de um amigo.
O motor do carro.
A janela aberta.
O vento no rosto.
O início de um novo dia enchia-a de saudades agora.
Apenas agora, depois de achar que mais inícios de dias não ia ter.
A morte tinha-a feito renascer.
Teve vontade de fazer amor.
Teve vontade de tocar outro corpo.
Teve vontade de beijar.
Teve vontade de boca com boca soprar toda a vida que tinha dentro de si para a boca de outro alguém.
Teve vontade de lamber outros lábios.
Teve vontade de fazer a sua língua rodopiar com outra língua e se afundar na saliva de outra boca.
Teve vontade de todos os sabores que outro ser tem para dar.
Teve vontade de roçar a sua pele noutra pele.
Teve vontade de misturar as gotas do seu suor com as gotas de outro suor.
Teve vontade de ver e desejar o desejo noutro olhar.
Teve vontade de gemer e suspirar em coro com outros gemidos e outros suspiros.
Teve vontade de prazer dado, trocado, oferecido, retribuído, partilhado, usado, rendido.
Teve vontade de um outro, um outro com cheiro e sabor a sémen.
Teve vontade de um homem.
A vida palpitava-lhe agora entre as pernas e os dedos quiseram sentir a vida a palpitar e palpitar com ela
Dançaram-lhe os dedos, dentro e fora dela, deslizando suavemente entre a seiva viva que dela escorria.
Quando parou deixou a mão ficar entre as pernas e sentiu-se inteira palpitar.
Palpitava ali onde a mão molhada se deixara ficar, palpitava-lhe o coração forte e ritmadamente e palpitava-lhe a alma engrandecendo-se exaltada.
Tum! Tum! Tum! Afinal havia um coração a bater por ela toda.
Era o coração ou era a vida, por ela e dentro dela a bater?
Sorriu!
Amanhã tinha alta.
Amanhã ia sair.
Sair para onde?
Sair em que direcção?
Para fazer o quê?
Já não era a mesma, tudo tinha mudado.
A morte fizera-a nascer de novo.
A memória retrocedeu sem medo. Foi ver como tinha sido aquele dia.
Não ouve desespero se é o que esperam.
Não houve choro, nem tristeza.
Não houve gritos nem descontrole.
Não houve lágrimas, nem baba, nem ranho.
Não houve raiva ou revolta.
Houve apenas uma mulher que chegou um dia a casa mais cansada que todos os outros dias.
Houve apenas uma mulher que chegou a casa um dia carregando o cansaço acumulado ao longo de todos os outros dias.
Houve apenas uma mulher frente a frente com esse cansaço.
Houve apenas uma mulher que olhou para si própria e nada lhe fez sentido.
O cansaço era tanto que sentiu que as forças se tinham esgotado.
Sentiu que tinha chegado ao fim.
Fim da linha.
Fim de percurso.
Fim do caminho.
Não viu razão para mais um dia.
Para mais um esforço.
Para mais um despertar.
Mais um banho.
Mais um pequeno-almoço.
Mais uma ida.
Mais um café.
Mais um dia de trabalho.
Mais umas palavras sem significado trocadas sem vontade e sem memória. Mais um regresso.
Mais um jantar.
Mais um fim de dia.
Mais uma noite.
Mais um sono.
Mais um sonho também ele sempre igual, também ele sempre e apenas mais um: o sonho de que o dia seguinte não seria apenas mais um dia mas era-o sempre, sempre apenas mais um, sempre apenas mais um igual aos outros, mais um a seguir a outro igual ao anterior.
Dias sempre iguais como sempre iguais eram sempre os seus sonhos de que os dias fossem diferentes para que diferentes pudessem ser também os sonhos.
Faltou-lhe a força para somar mais dias iguais aos dias já somados.
Tirou o casaco e fez um último esforço, foi à gaveta dos comprimidos e trouxe todos.
Encheu um copo de água.
Sentou-se na sala e colocou os comprimidos em fila em cima da mesa.
Eram muitos, de várias cores.
Colocou-os combinando as cores e o número como quem faz um colar de contas.
2 Brancos, 1 azul claro, 1 branco 1 azul mais escuro, 1 branco 1 verdes, dois brancos, 1 azul claro, 1 branco 1 azul mais escuro, 1 branco, 1 verde 2 brancos…
Olhou-os e achou bonito.
Tomou-os lentamente com o mesmo critério com que os colocara em cima da mesa.
2 Brancos, 1 azul claro, 1 branco 1 azul mais escuro, 1 branco 1 verdes, dois brancos, 1 azul claro, 1 branco 1 azul mais escuro, 1 branco, 1 verde 2 brancos…
Era uma mulher especial Luísa, tinha um charme próprio, um estilo característico, discreto mas de uma sofisticação fora do comum.
Tinha uma doçura estranha.
Uma doçura tão poderosa que quase se tornava diabólica.
Quando Luísa sorria o mundo inteiro parava para a ver sorrir.
Quando Luísa sorria o mundo inteiro se esgatanhava para beber o mel daquele sorriso.
Quando Luísa docemente sorria o mundo competia com ferocidade pelo poder de poder ter a doçura daquele sorriso.
Luísa sabia que quando sorria o mundo ficava pior.
Mas sorria continuamente.
Derramava sorrindo o mel que lhe nascia no coração.
Luísa sorria estranhamente e em excesso.
Luísa era assim: estranha e excessiva.
Era-o na forma como organizava e ordenava quase tudo.
Era-o na forma de se vestir, na forma de coordenar os acessórios, na maneira de dispor os objectos pela casa, no trabalho, na cozinha, na vida.
Fora-o também na morte.
Quis morrer da forma como vivera.
Quis ser a mesma Luísa na morte que fora na vida.
Agora que pensava nisso achava-se monótona.
Agora que pensava nisso via o ridículo da coisa, cansada de dias sempre iguais matara-se de forma igual aos seus dias iguais.
Ana!
Ana nunca se mataria assim.
Ana nunca se mataria, nem assim nem de qualquer outra forma.
Ana seria capaz de matar mas não se mataria nunca.
Ana não iria gostar de saber a forma organizada e pouco teatral como ela, Luísa, se matara.
Imaginava-a dizer-lhe: - Ai Luísa, que raiva criatura, não te enjoas de ti própria? Muda mais! Varia mais! Não sejas sempre a mesma, tão doce, tão correcta, tão coerente, tão previsivelmente enjoativa! Até porque isso tudo é uma treta, uma mentira, a que desde que nos separamos tens habituado os outros e até a ti, querida amiguinha.
Tu tens esse coração de mel é verdade, tens essa doçura, é verdade. Mas esse mel e essa doçura são perigosos e tu sabes e usas e abusas disso. Muitas vezes és uma víbora, mazinha e tu bem sabes disso.
Tu e eu sabemos isso.
Tu e eu construímos-te assim.
Luísa imaginava as palavras de Ana e imaginava-se com o tal sorriso respondendo que sim.
E sim Ana teria razão.
Ela e Ana conheciam-se melhor que ninguém.
Ela e Ana tinham-se construído juntas.
Conheceram-se no início da adolescência quando as personalidades se principiam a definir.
Dois seres solitários, com uma inteligência incomum, um aspecto incomum, uma maturidade incomum, uma coragem incomum, uma empatia imediata incomum.
Criaram-se.
Construíram-se.
Inventaram-se juntas.
Foram-se fazendo a si próprias e uma à outra a medida da vontade e da necessidade.
Fizeram-se sem deixar o mundo ter voto na matéria.
Construíram-se para se admirarem e se usufruírem mutuamente e em exclusivo uma à outra.
Ocasionalmente, ocasionalmente apenas, era permitido a outros fazerem passagens rápidas pelas suas vidas.
Gostavam de ser admiradas. Gostavam de seduzir.
Ambas eram criaturas muito sedutoras, ambas eram jogadoras. Ambas se tinham viciado na sedução como um jogo. Um jogo que se ganha ou se perde. Ambas jogavam para ganhar sempre. Essa era uma regra incontornável: não admitir jamais outra hipótese, apenas vencer. Ainda assim ambas jogavam pelo prazer do jogo e não pela ânsia da vitória ou pelo valor do prémio. O prémio era o que se divertiam juntas jogando e ganhando, nada mais.
O facto de terem uma aparência estranhamente cuidada para a idade, de serem estranhamente diferentes uma da outra, de estarem estranhamente ligadas e de falarem uma estranha linguagem que só elas entendiam, era já meio caminho andado neste jogo de sedução.
Uma espécie de código postal da sedução.
Esta estranheza, evidente ao primeiro olhar era o canto da sereia que atraía como um íman os olhares, as atenções e a curiosidade sobre elas.
Homens e mulheres, novos e velhos rendiam-se aos seus encantos, deslumbravam-se e sucumbiam perante aqueles dois seres estranha e poderosamente sedutores.
Na verdade elas pouco se importavam com quem seduziam, usavam e deitavam fora indiferentes ao rasto de mágoa que deixavam ficar para traz quando misteriosamente desapareciam de cena.
Quando se tratava de sedução até ela, Luísa, que era a sensível e bondosa das duas, se tornava má e cruel tal era a indiferença com que tratava as vítimas dos seus jogos de sedução.
Poucos dos que saíram derrotados e falidos de orgulho daquele jogo se aperceberam que de facto Ana e Luísa se seduziam uma à outra.
Eles eram apenas jogadas de um jogo maior que era a sedução permanente entre as duas.
Não era uma sedução sexual, nada tinha de sexual.
Era uma sedução intelectual, emocional, de alma, uma sedução com o poder de mexer com todos os sentidos.
Diziam muitas vezes uma à outra: - Em qualquer relação a sedução tem de ser permanente, na amizade como no amor tem de haver sedução para que não se instale o tédio.
Quando Ana a chamava enjoativa e sempre igual estava apenas a puxar por ela a desafia-la mais e mais.
Ambas o faziam.
Desafiavam-se sem limites.
E sem limites aceitavam qualquer desafio.
Entre elas não havia 1 minuto de tédio… cresciam e modificavam-se, a si mesmas e uma à outra surpreendendo-se e complementando-se a cada dia.
Exigiam mais e mais e a fonte não secava nunca, regavam-se e floresciam, regavam-se mais e floresciam mais.
Agigantavam-se uma na outra, uma para a outra.
Pareciam ter criado a relação perfeita.
Eram perfeitas juntas.
Flores belas e gigantes.
Duas flores ligadas uma à outra eternamente, duas flores presas à mesma raiz.
Esqueceram-se de pensar como seriam separadas.
Separadas uma da outra, desenraizadas.
Luísa pensa nisso agora.
Recorda o aparecimento do João.
Recorda o turbilhão de sentimentos que tomou conta dela e com os quais nem ela nem Ana contavam.
Recorda o primeiro beijo do João. Não sabia a jogo como todos os outros beijos.
O beijo do João sabia a ele e era dele o sabor que ela buscava nos seus lábios.
Recorda a paixão que a dominou por completo.
Ela e o João não pensavam em mais nada que um no outro, não queriam mais nada do que estar um com o outro, um dentro do outro.
Gostava de sentir sobre ela aquele domínio, que fora sempre ela a exercer sobre os outros.
Gostava de se sentir rendida como sempre a ela se tinham rendido.
Estava fascinada pelo João. O João estava fascinado por ela e por Ana.
As duas tinham-lhe chamado a atenção. Seduzira uma envolto no fascínio das duas.
Amava Luísa, mas Ana estava sempre, sempre presente no seu imaginário, nas suas fantasias, nos seus sonhos.
Depois da noite em que Ana desapareceu, o João foi-se modificando, foi ficando ausente, desinteressado acabando por desaparecer também.
Luísa não precisou que lhe explicassem, era demasiado inteligente para cegar perante a paixão e demasiado sensível para não ter sentido na pele, sobre a pele, dentro da pele, dentro da alma, dentro do coração dentro de todo o seu ser, de toda a sua essência, o que se tinha passado.
Foi-se tornando claro, penosamente claro, foi transparecendo dolorosamente.
Ela e Ana tinham cometido um erro grave.
Construíram-se para se completarem.
Ficavam incompletas uma sem a outra.
Uma sem a outra eram um intricado puzzle com apenas metade das peças.
Impossível de resolver. Desprovido de sentido. Sem razão de existir.
Uma sem a outra eram uma obra inacabada.
Um edifício sem estrutura, pronto a ruir.
Luísa ficara incompleta.
Ana partira incompleta.
Ambas o foram percebendo quando se viram uma sem a outra.
Ambas o foram percebendo quando deixaram de se sentir inteiras.
Não estavam inteiras, só eram inteiras juntas.
Separadas não tinham raiz, não cresciam, não floresciam.
Separadas eram flores de jarra aguardando inevitavelmente murchar.
Lutaram como puderam.
Tentaram reinventar-se como puderam.
Mas iam murchando.
Encarquilhavam lentamente na ausência uma da outra.
Viviam cada uma à sua maneira murchando na saudade.
Que grande erro tinham cometido!
Que grande falha as tinha destruído!
Estariam a tempo de remediar o erro?
Como se corrige a criação de duas aberrações?
Como se tratam e curam duas flores gigantes, dois monstros doentes de dependência.
Ela, Luísa, sentia-se renascida, fortalecida, cheia vontade de vida mas sabia não ser suficiente.
Continuava na jarra. Uma jarra mais bonita, mais ampla, com água limpa, nova e fresca. Mas continuava numa jarra.
Quanto tempo duraria até murchar de novo?
Como se corrige a criação de duas aberrações?
Como se tornam duas flores doentes em duas flores saudáveis?
Luísa não sabia a resposta mas sabia que tinha força para a procurar.
Tinha de aproveitar essa força agora, não sabia quanto tempo a ia ter.
Tinha saudade.
Tinha saudade da aberração que a completava.
Tinha saudades de se sentir completa.
As duas eram perfeitas.
Queria voltar a ser.
Perfeita, ou imperfeita, tanto fazia.
Queria voltar a ser.
Queria ser.
Queria ser e sentir tudo de novo e tudo pela primeira vez.
Queria aprender a ser independente de Ana e ama-la assim.
Queria aprender a ser independente de Ana e senti-la assim.
Tinha saudades! Tantas, tantas saudades!
Amanhã tinha alta.
Depois de amanhã consulta de psicanálise.
Sorriu.
Imaginou o psicanalista perguntar-lhe o porquê?
Soltou uma sonora gargalhada.
Um som pouco usual na noite do hospital.
Dir-lhe-ia apenas que estava cansada e precisava descansar.

Voltou a sorrir, doce, docemente.
Morreu 5 dias para descansar.
Agora chegava.
Não queria descansar mais.
Queria viver.
Procurar Ana.
Tinha de procurar Ana.
Tinham de resolver o erro juntas.
Queria sair dali.
A vida chamava por ela lá fora.
Ana chamava por ela.
Amanhã tinha alta.
Depois de amanhã consulta de psicanálise.
Iria?
Onde estaria depois de amanhã?
Por que caminhos as ganas de agarrar a vida a levariam.
Iria sem medo aprender a florescer independente.
Independente, não só!
Queria tocar, sentir, acreditar de novo.
Teve vontade de fazer amor.
Teve vontade de um sorriso.
Teve vontade de um abraço.
De um beijo.
De um toque.
De uma carícia.
Da voz de Ana.
Recordou a voz de Ana, o toque da mão de Ana sobre a sua mão enquanto descansava morta.
Aquele toque, aquela voz completaram-na.
Ter-lhe-ia Ana salvo a vida?
Recordou o calor e o brilho da luz do sol no rosto pela manhã.
Teve vontade que a noite terminasse.
Teve vontade de começar o dia.
Adormeceu e sonhou com um dia diferente como sempre o fizera.
Desta vez faria com que fosse verdadeiramente diferente.
Estava nas suas mãos mudar a sua vida, os seus dias.
Iria procurar Ana.
Amanhã?
Depois?
Não sabia quando.
Adormeceu enroscada na saudade.


(Continua)

Isabel
"Da jarra"
Fernando Penin

92 Comments:

Blogger RD said...

As multiplas faces do artista, a sedução entre elas, a guerra... e os comprimidos, sempre presentes como cornetas anunciando a Paz desejada mas não prometida.

Porque no fim, vencendo ou perdendo a batalha da morte, o artista só quer... amor.

quarta-feira, fevereiro 28, 2007  
Blogger Mina said...

No fim, tudo se resume a alguém... companhia, amizade... felicidade. Nada o substitui. Viva-se o dia a dia sem pensamentos tristes.
O Renascer da Luisa :)
Bjs!

quinta-feira, março 01, 2007  
Blogger Cusco said...

Já estive cheirando, farejando, apreciando o branco das palavras. A enfarinhada brancura.
Vou voltar para ler e reler com atenção, para voar, vogar nas tuas palavras, nas tuas linhas.
Vou voltar com mais atenção e concentração pois, como para escrever, também para ler, tem de ser com alma.
Até breve
SE DEUS QUISER

quinta-feira, março 01, 2007  
Blogger Marta Vinhais said...

Bom dia, parei, porque conheci muito bem a solidão que é estar deitada na cama de um Hospital...
A tristeza que é ficar sozinha, rodeada de estranhos e sentir que o tempo parou..
Foi isso que senti quando estive internada.
O texto está uma beleza; segundo percebi, tenho que ler os anteriores para me situar na história.
Obrigada pela partilha.
Beijos e abraços
Marta

quinta-feira, março 01, 2007  
Blogger Estranha pessoa esta said...

Isabel,
Já sabes que gosto de 'te ler' é com calma..
E à noite :)
Vim aqui deixar um abraço enorme para ti e agradecer-te do fundo de mim as tuas palavras...
Já tinha saudades tuas lá no meu estaminé!

***

Logo volto!

quinta-feira, março 01, 2007  
Anonymous Anónimo said...

cara isabel. também eu aqui tenho vindo muitas vezes em silêncio. os seus posts escorrem muitos braços que nem um polvo tem tantos olhos. estive a ler o seu comentário e a pessoa lá é a mesma pessoa aqui, o mesmo poema. nenhuma distância vai do centro do mundo ao fim do belo. todos nós procuramos a palavra que define o impronunciável. todos nós a buscamos no ilimite do tempo sem paradeiro. poderia acrescentar mil e ainda assim não a descobriria. a única palavra necessária. está nos lábios emboscada. beijinho grande.

quinta-feira, março 01, 2007  
Blogger bettips said...

Isabel ...minha querida maninha dos montes. É muito difícil ler-te, percebes? como se tivesse de andar em brasas ou no gelo, evitando a ferida. Calor escorre-te. Neve também.
Bjinho

quinta-feira, março 01, 2007  
Blogger Rui said...

Sabia apenas que sim.

quinta-feira, março 01, 2007  
Blogger Pierrot said...

O yeng e o Yang ganham forma, depois de há muito terem ganho nomes, Luisa e Ana!
O equilibrio já teve melhores dias, antes do João, mas hoje parece que finalmente dão as mãos e readquirem a estabilidade.
Uma vez mais, fantástica estória.
Sugiro-te que a releias com santiago santaolalla, no tema Partida del Leprosário
Vais-te passar minha cara amiga, vais mesmo, uma música que casa na perfeicção com este episódio.
Bjos daqui

quinta-feira, março 01, 2007  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Querida Isabel

Apneia - nos sentires da escrita - com que nos levas por vários trilhos_________ao fundo

...de quem estamos próximos______da morte ou daquilo que ainda não é__________um grito dum corpo que quer_______ressuscitar_______a ousadia da procura de viver!

Beijinhos com carinho

quinta-feira, março 01, 2007  
Blogger david santos said...

Olá!
Isabel, desculpa a minha ausência, mas com as mudanças nos blogs, eu fiquei pelo caminho... as novas tecnologias derrotaram-me. Não fora o meu neto, o Daniel, com 9 anos de idade, e eu tinha-me perdido para sempre. É a velhice...
Os meu filhos percebem muito disto, mas não querem que eu passe o tempo à frente do computador. Por isso, viram-me enrascado, mas não me ajudaram em nada. Teve que ser o meu querido neto. Agora estou a tentar apanhar o fio à meada. O meu neto, até um contador meteu nesta coisa. O meu filho mais novo, que é Engenheiro nesta área, até anda tolo! Pensava que nós, eu e o meu neto, não nos desenrascávamos, mas estamo-nos a sair lindamente. No Domingo à tarde venho comentar ler e comentar os teus trabalhos. Olha que eu nunca me esqueci da tua escrita.
Abraços.

quinta-feira, março 01, 2007  
Blogger M. said...

Vim agradecer a visita,as palavras e o lindíssimo poema.
Interessante este teu texto, muito intenso.

quinta-feira, março 01, 2007  
Blogger veritas said...

Olá Isabel:

Ainda bem que passei, já estava com saudades dos teus sentires.

Bjs.

quinta-feira, março 01, 2007  
Blogger Paúl dos Patudos said...

A tua Ana onde me revejo em algumas das tuas palavras.
Isabel, escreves tão bem, gosto de te ler.
bjo
Ana Paula

quinta-feira, março 01, 2007  
Anonymous Anónimo said...

O artista tem múltiplas faces, consoante o contexto assim ele as aplica ,mas sempre com um objectivo determinado "ALGUÉM", que o resume a uma companhia, a uma amizade ou mesmo atingir a sua felicidade.

Beijinhos Zita

quinta-feira, março 01, 2007  
Blogger Escorpiana Explosiva said...

Vinho aqui agradecer pela visita e dizer que você ja faz parte da minha casinha.

Quando voltares deixe seu link.

Belissímo texto e lindissíma essa imagem tem bom gosto no texto e na imagem.

Quando se tem sinceridade no que se fala para alguém você sabe que sua parte foi feita.

Companheiro, amigos, familiares tudo isso faz com que a gente se sinta bem conosco mesmo.

cara amiga não posso com cheiro de hospital,fico pior do que ja do quando adoeço.

Tive um ano e pouco cuidado de um afilhado de 15 anos,num hospital e notei que no quarto do meu afilhado encontrava se um senhor ja de bastante idade abandonado pela familia.

Isso me faz parar para pensar o que se passava dentro daquele homem só.

Num quarto com pessoas que nunca tinha visto antes mas que conseguiam fazer ele sorrir quando contavamos de nossas travessuras na infancia.

Eu vinha que em sua fase surgiam uma aparecem de felicidade por ter encontrado pessoas que lhe faziam sorrir novamente.

Longo em seguida meu afilhado venho a falecer,mas eu nunca deixei de visitalo,aquela pessoas com quem conheci e me encinou muitas coisas que eu não sabia .

Hoje eu sei que muitas vezes a dor maior que carregamos dentro de nós é a solidão pois ela é a mais dolorida que qualquer magoa .

Quando estamos só estamos num buraco sem saida,devemos olhar com mas atensão as coisas em nossa volta e da valor naquilo que tem vida e sentimento e não naquilo que não tem vida.

Um abraço.

quinta-feira, março 01, 2007  
Blogger JPD said...

Olá Isabel!

Quem for obrigada a ser internada num hospital público, numa enfermaria com imensa gente, numa daquelas 'celebradas' "Medicinas Internas 1, 2,o nº que for" sofrerá angústias tremandas e muito bem retratadas, sentirá alguma solidariedade e sofrerá com aqueles que não recuperando, definham com a perda derradeira do brilho no olhar, mas também conhecerá uma tenaz luta de outros por se reabilitarem e akudarem os parceiros a fazer a sua convalescença.
Estar doente é passar, inexoravelmente, para o outro lado da humanidade, para o lado de uma certa deminuição, sofrendo a compaixão, incompreensão ou até a desumanização da terapia em escala.
Quem aguenta facilmente a solidão dos doentes que não recebem visitas na hora?
EStá muito bem escrita esta tua edição.
Obrigado pela visita ao »Mel»
Irei estar atento ao teu blog.
Bjs

quinta-feira, março 01, 2007  
Blogger DairHilail said...

cheguei aqui...li, li, e adorei...
parto com as tuas palavras em mim, vou levá-las para a minha floresta...
fica bem

sexta-feira, março 02, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Que maravilha de lugar é esse?...

noss... confesso que ainda não terminei de ler "começar de novo"... mas esteja certa que por aqui estarei em breve.

bjo grande e sentido.

jf p.

sexta-feira, março 02, 2007  
Blogger diabinho said...

Olá Isabel,

Apesar de ambos termos começado tudo de novo (em vidads diferentes, não era esse fugir que me referia. Por vezes fugir, desistir, pode ser a maneira mais fácil de resolver algumas coisas, mas devemos lutar por aquilo em que acreditamos.
Para amarmos e sermos amados, temos que nos sentir bem, fazer aquilo que gostamos.
Aquele post, é essencialmente dedicado à paixão que a minha Mafarrica tem pelos cavalos e a sensação que tem ao montar a cavalo.

Beijinhos

PS: És tu que tens feito comentários na coudelaria?

sexta-feira, março 02, 2007  
Blogger Isabel said...

Minha amiga dos olhos cor de lago,

Eu sei que tu és mulher de lutar por aquilo em que acreditas... vejo-o no que escreves, naquilo que mostras amar e nos sonhos que tens e pelos quais não duvido que lutes sempre.
A tua Mafarrica tem uma boa paixão, os cavalos tambem me encantam tem neles uma docura selvajem que não me canso de admirar, não sei montar mas imagino que essa sensação deve ser maravilhosa.

Os animais tem o dom de saber tornar os humanos felizes das formas mais simples... um dia nadei com golfinhos e jamais esquecerei a sensação de felicidade que aquele momento de partilha entre mim e eles. A forma como me ajudaram e me fizeram sentir protegida para gozar a alegria de nadar e saltar com eles foi uma sensação verdadeiramente maravilhosa.
Quando no fim os abraçei foi um abraço de OBRIGADA POR ESTE MOMENTO.

PS: Não deixei nenhum comentário na coudelaria, os meus comentários são todos perfeitamente identificados.

Um beijo.

Isabel

sexta-feira, março 02, 2007  
Blogger miruii said...

Ai que flor linda para eu poisar...
E embalar na bela escrita!
Picada doce... fui!

sexta-feira, março 02, 2007  
Blogger Bruna Pereira Ferreira said...

Isabel:

Siceramente não tenho já nada de original para te dizer. És sempre perturbadoramente bela na escrita. E eu continuarei a vir aqui.
Ler-te.

:)

sexta-feira, março 02, 2007  
Blogger Cris said...

Fiquei sem fôlego, fico a aguardar!
Obrigada pela visita a Terra.

Passei por aqui para te dar um beijinho de Fim de Semana :)

Cris



Ps: És a Isabel que tão gentilmente comenta o blog da "Coudelaria"? beijinhos

sexta-feira, março 02, 2007  
Blogger diabinho said...

Já agora, não sou "ela", sou "ele"... um mafarrico, um diabinho, com "olhos cor do lago"...
;-)

Beijinhos

sexta-feira, março 02, 2007  
Blogger Isabel said...

Ora, ela ou ele tanto faz és a pessoa dos olhos cor de lago...
As pessoas é que contam para mim.

Isabel

sexta-feira, março 02, 2007  
Blogger vida de vidro said...

Ler-te é uma experiência fascinante. A experiência de entrar fundo na alma humana. Acredito que te seja necessária essa vertigem de palavras. **

sexta-feira, março 02, 2007  
Blogger Vida said...

Fascinante esta dualidade de personagens e personalidades, fascinante esta sequência de contos confrontando as várias personalidades, é como um jogo de dores e saudades, é um partir que quem fica sofre e quem parte chora, excelente. Isabel, para quando um livro?

Beijos e um bom fim de semana.

sexta-feira, março 02, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Hoje já tenho serão.
Obrigada pela partilha dos teus textos.
Beijinho e bfs :)

sexta-feira, março 02, 2007  
Blogger SMA said...

Branco, aparente inexistência de cor. Branco que contem tudo, a melhor designação para amor. E o branco de um hospital leva-me ao branco da cura onde existiu dor….

Bjo doce, gosto da tua escrita

sexta-feira, março 02, 2007  
Blogger Lara said...

ISABEL:

confesso que ainda não li o teu texto, pk neste momento não estou com tempo.... mas quis vir até aqui para agradecer as palavras lindas que deixaste no meu blog.

juro-te que me emocionaram


voltarei ainda hoje para te comentar

beijo

sexta-feira, março 02, 2007  
Blogger Maria said...

Wow, isto é que é escrever...

obrigada pela tua visita*
beijinhos





*vi o teu comment e respondi no meu blog.

sexta-feira, março 02, 2007  
Blogger jorge esteves said...

Um leitura ao jeito de prescrição clinica: não se esqueça de tomar, antes da refeição, não mastigue, engula com um pouco de água; pode ter sintomas colatarais, mas far-lhe-à bem ao espírito...
Abraços!

sexta-feira, março 02, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Não te conhecia, Isabel. Vim porque achei o teu comentário no Blog do Eugénio, inteligente e muito correcto.
Cheguei aqui e confirmei as minhas suspeitas: serias um blog de referência.
Sem muito tempo para te ler devidamente, vou tomar a liberdade de te linkar e voltarei, logo que o tempo me permita.
Desde já um abraço
d(a) e Mel
(www.noitedemel.blogs.sapo.pt)
ou
(www.maresiademel.blogs.sapo.pt).

Uma nota para a música. Belíssima escolha

sexta-feira, março 02, 2007  
Blogger Alexandre said...

Olá, Isabel,

também já tinha saudades de vir aqui e passear-me pelos teus textos... como já te tenhodito tenho que imprimir para ler com atenção.

Mas queria dizer-te que aquele blog que comentaste esta bloqueado porque o google/gmail desactivou-me a conta não sei porquê??? Dá para comentar mas não consigo entrar para postar mais nada

No entanto, já criei um Fundamentalidades - parte 2: é só clicares ali em cima no nome ou na minha foto e vais lá parar - continuo generalista como no anterior.

Quanto ao teu texto, prometo que voltarei aqui para dar a minha opinião.

Beijinhos e bom fim-de-semana!!!!
Alexandre

sexta-feira, março 02, 2007  
Blogger Elsa Sequeira said...

Olá Isabel!!
Que bom que voltaste!!!
E que voltaste com a tranquilidade das montanhas!!!
Eu também tive saudades tuas, muitas!
Vejo que voltaste em grande!
o TEU POST....MAGNIFICO! Como sempre, adorei, Amiga!!!
Continua com a tranquilidade e a Força das Montanhas!!!

beijinhos do coração!
:)

sábado, março 03, 2007  
Blogger jawaa said...

Como sempre, a tua escrita intensa, avassaladora, sedutora.
Fico à espera de mais.

sábado, março 03, 2007  
Blogger DairHilail said...

foi o vento que me aqui trouxe, toquei e agora parto com a certeza de que realmente ha almas tocantes...a tua é uma delas.
parabéns Isabel!
Fica bem.

sábado, março 03, 2007  
Blogger rui said...

Olá Isabel

Escreves muito bem!
É mesmo, um grande prazer ler-te!
Tens aquele dom especial, só pertença dos eleitos, de saber colocar a palavra certa no sítio certo.
O que escreveste, é fabuloso.
Acho que não estou a exagerar.

Fico feliz por gostares da Madeira, na verdade é facil, ela tem recantos encantadores.

Que tenhas um lindo fim-de-semana
Beijinho

sábado, março 03, 2007  
Blogger Maria said...

Já sabes que eu passo, leio, e saio sem comentar, normalmente. Mas que passo.
Hoje apetece-me deixar-te um beijo, pelo texto, e um abraço, pela flor.

sábado, março 03, 2007  
Blogger Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes said...

Feliz acaso. Poisei junto à "Tua Jarra" Estou estonteado. Tanto humanismo. Tanta força. Tanta riqueza. Vou feliz. Voltarei.

sábado, março 03, 2007  
Blogger Rocha de Sousa said...

Isabel,
Não sei se já contactámos (eu tenho blos: «desenhamento» e
«construpintar02») mas vom aqui dar, aliás para meu bem, pois estive a ler a sua última produção e achei-a de efabulação muito sentida (do hospital à fredescoberta existencial) numa força invulgar. Felicito-a pelo bom espaço que preenche e vive,
com as minhas cordiais saudações
Rocha de Sousa

domingo, março 04, 2007  
Blogger as velas ardem ate ao fim said...

Vim cá 2 vezes para ler e re ler.

Fiquei arrepiada nas duas.

Fiquei a detestar ainda mais o branco.

bjinho enorme

domingo, março 04, 2007  
Blogger Lia said...

O branco, serenamente perturbante.

O desafio da vida é o que mais custa à montonia. O caminho nem sempre é o mais fácil, uma vez que temos que sacrificar o tédio.

Gostei imenso d te ler. Voltarei para continuar o que ficou para trás.

Beijinhos

domingo, março 04, 2007  
Blogger FMS said...

Bem, como escreves.

segunda-feira, março 05, 2007  
Blogger Alberto Oliveira said...

... pelos (de)sencontros que a blogsfera também propicia, não li na altura devida os capítulos anteriores. Fi-lo agora (e juntei-lhe este) de um fôlego. E gostei tanto que aguardo ansioso a continuação.

Óptima semana!!

segunda-feira, março 05, 2007  
Blogger Jo said...

Texto simplesmente fabuloso...
Vou voltar para ler mais, de certeza!
beijo

segunda-feira, março 05, 2007  
Blogger Sea said...

Vim até aqui para agradecer a passagem e as palavras deixadas no Place e fiquei deliciada com os teus textos.
Vou voltar mais vezes, concerteza :)

segunda-feira, março 05, 2007  
Blogger Misantrofiado said...

Ler este texto fez-me lembrar novamente a temporada que passei internado no hospital, após a primeira e única intervenção cirurgica a que fui submetido.
Ironia do destino é... tantas as vezes que dizia que jamais ia à faca e... quem diria, fui mesmo e logo no hospital onde desempenhava na altura as minhas funções profissionais!
"O Piano" é simplesmente divinal.
Obrigado por mais este momento.

segunda-feira, março 05, 2007  
Blogger António Melenas said...

Mais um dos teus longos e fascinantes, inquietos inquietantes textos com sabor a poemas
Nele cabe se desenrola inteirinha a "essência da humanidade. Vida e morte, e renascimento , dia e noite, branco e negro, sangue e sémen, dor e prazer, sofrimento e gozo, amor e amizade, erotismo,tudo perpassa neste febricitante texto, que se lê e relê e volta reler, retendo na boca o sabor de cada palavra.
Só quem conhece (eu conheço) as noites lívidas, gemidas, intermináveis das enfermarias de um hospital poderá apreciar devidamente o realismo da tua descrição.
Obrigado pelo que escreves.
....
Obrigado também pelos admiráveis comentários que deixaste na "Diana" e na Teresinha.
Há uma frase que lá deixaste que eu subscrevo totalmente e cujo sentido, aliás, escrevo frequentemente:
"E o meio fechado do jornalismo com o seu dever de informar.
Informar quem?

Pomposamente informar os já informados ou os que já¡ facilmente tem acesso à informação."
É isso mesmo: "eles" até se dão ao luxo de de difundir certa informação, que só aparece em certos suportes e que sabem que só vai ser apreendida por quem já a conhece. Dão uma de democratas, e é como o latim: "quem sabe sabe e quem não sabe fica assim"

segunda-feira, março 05, 2007  
Blogger António Melenas said...

Cara Isabel,
Este comentário não é para aceitares é apenas para tomares conhecimento.
Na frase do texto "palpitava ali onde a mão molhada DE deixara ficar". obviamente que aquele DE é um SE.
Sei que dificilmente quem escreve dá com com este tipo de gralhas por isso, eu, que estou de fora (e tantas gralhas cometo) me sinto na obrigação de te alertar para o facto

Tenho pena não ter o teu endereço para te dizer isto por mail
bjs

segunda-feira, março 05, 2007  
Blogger P. Guerreiro said...

Muito bom...Gosto da Luísa, gosto das Anas, gosto muito do que escreves, do que estás a escrever, tanto do saber das vidas que precisam recomeçar, das vidas que aproveitam os sustos, os momentos criticos como ponto de partida...
Um abraço amigo...Deste amigo das palavras.

segunda-feira, março 05, 2007  
Blogger Alexandre said...

«O hospital tem uma música própria, uma balada, uma sinfonia, um hino que todos, todos sem excepção, escutam quando deitados numa daquelas brancas enfermarias, numa daquelas brancas camas, cobertos por um daqueles brancos lençóis aguardando a noite passar»

Escolhi esta passagem do teu texto, mas bem podia ter escolhido outra... Reafirmo que tens uma facilidade em comunicar com o papel - neste caso computador, não sei se escreves primeiro no papel, presumo que sim? - os teus textos são contos, são livros...

Obrigado tb pelas tuas palavras. Desejo que esteja tudo bem contigo, também sei que és uma pessoa fantástica...

terça-feira, março 06, 2007  
Blogger MIG-L said...

Obrigado pela tua visita. Um beijinho...

krigsmjod.blogspot.com

terça-feira, março 06, 2007  
Blogger Estranha pessoa esta said...

Tens um Miocárdio à tua espera...
E quando lá fores, espreita os comments do andar debaixo :)

Abraço enorme para ti **

terça-feira, março 06, 2007  
Blogger InConfidências said...

Então Isabel sinte-me feliz em te fazer sorrir!

Por isso que és esse canteiro de ternura, carinho e amor!

Eu ainda sou frágil Isabel, em todos os sentidos.
Com certeza um dia serei forte onde sou mais frágil.
Ah, isso serie!

Tenho imenso prazer em te ler Isabel, mas com calma.
E que aqui, eu sempre choro.

Esses tormentos as dores a frieza de um hospital eu as conheço de cor e salteado a “metade” da minha vida eu passo em um deles, claro do outro lado, mas,nem por isso muda a cor.

(Adoro quando você vai lá no meu Cantinho)

Beijo, beijos Isabel!!!

terça-feira, março 06, 2007  
Blogger Isamar said...

Gostei muito de ler o teu post. O hospital tem vida. Tantas vidas! De dia, de noite...
Um beijo

terça-feira, março 06, 2007  
Blogger paulo said...

Li, vou voltar para ler mais. E os copos de papel não são ecológicos. Mas, como dizia o outro, o continente é importante, mas o que é interessante é o conteúdo. Até já.

terça-feira, março 06, 2007  
Blogger Pierrot said...

Não era santiago mas sim gustavo santaolálla.
Vai por mim...
Bjos daqui
Eugénio

terça-feira, março 06, 2007  
Blogger Cris said...

Passei para aqui para te reler e ver se já havia continuação.

Um beijinho

cris

terça-feira, março 06, 2007  
Blogger Pierrot said...

Isabel

Coloca isto no teu motor de busca e ouvirás a música dos Céus...

http://www.youtube.com/watch?v=53n0gNvgHN8

É brutal, uma espécie de banjo, flauta de pã, enfim, algo que nos faz fechar os olhos e imaginarmo-nos nos andes...

Ouve e vai ver que te apaixonas no instante.

Bjos daqui
Eugénio

terça-feira, março 06, 2007  
Blogger Luiz Carlos Reis said...

Isabel,

O contexto literário é divino, considerando todos os aspectos de tua escrita me ví fascinado pela leveza e sutileza de como coloca as palavras. É impossível parar de lêr teus contos. Extensos (risos) porém ótimos relatos de vida.
O recomeço sempre vale à pena!

...Aguardo mais!

Abraços no coração!

terça-feira, março 06, 2007  
Blogger Isabel said...

Meu amigo António Melenas,

Aqui ficam os meus agradecimentos pela chamada de atenção... e a correção da gralha já está feita.

Nós que não somos profissionais da escrita, e que muitas vezes publicamos textos sem tempo sequer para os rever agradeçemos estas atenções de quem nos lê.

No meu caso que escrevo ao corrido, quase sempre debaixo de uma espécie de êxtase, transe, sei lá o que lhe chamar e no fim limito-me a assinar e pronto... já um novo texto começa a fervilhar na minha cabeça maiores são as possibilidades destes erros e maior obviamente é o meu agradecimento.

Obrigada António.

Isabel

terça-feira, março 06, 2007  
Blogger redonda said...

Agora vim até aqui. Vou ver se volto para ler mais.

terça-feira, março 06, 2007  
Blogger Klatuu o embuçado said...

Concordo: os hospitais deviam ser pretos... vai-se para lá esticar o pernil!

terça-feira, março 06, 2007  
Blogger Rocha de Sousa said...

Cara Isabel, apesar de teres tudo
cheio de cumprimentos, não resisto
à tentação de te agradecer o teu comentário, cheio de saúde mental,
de entendimento do próprio sentido
da postagem, protestando como quem
apoia um amigo encontrado e um pouco zangado com uma parte do mundo. As tuas perguntas são perti-
nentes, a tua voz límpida. Sinto-
-me correspondido estética e socialmente.
Obrigado.
Aparece sempre
Rocha de Sousa

terça-feira, março 06, 2007  
Blogger Maria said...

Li o texto outra vez...

Lembrei-me da minha amizade com a Ruivinha, tão diferente, tão positiva...

*vou ler mais uma vez

terça-feira, março 06, 2007  
Blogger InConfidências said...

Isabel...

Vim te ler de novo, e agradecer pelo lindo poema que me deixastes obrigada. “Amei, amei de verdade!”

Vou tentar ir ao blog da Elza ainda hoje.

Beijo, beijos querida no teu coração!!!

quarta-feira, março 07, 2007  
Blogger Lara said...

Uffa.... ao ler o teu texto passei por tantas sensaçoes que nem sei bem por onde começar. Encadeaste momentos, sensações, situações, temas, de uma maneira magistral.

Achei curioso a Luísa ser enfermeira e estar internada num hospital... (se calhar todos os médicos e enfermeiros deviam passar por essa situação, para sentirem o "pulso" aos doentes)

Tudo se torna frio quando estamos internados num hospital, tudo se torna brutalmente assustador.

o unico momento que a luisa teve de carinho humano foi quando se acariciou a ela propria... o que nos faz pensar, não achas? O "toque" faz tanta falta sobretudo nesses momentos.
Infelizmente dos hospitais tenho memórias terriveis.

O suicidio... tema que me apaixona, talvez pk tive um professor fantástico na faculdade nessa area, o Dr. Daniel Sampaio.. como eu entendo a tua ideia dos comprimidos em fila, coloridos... prontos a serem engolidos como se se tratassem de smarties... felizmente a tentativa de suicidio por compridos, tem como consequencia o que aconteceu á Luísa... serviu para acordar, dar valor á vida, e sobretudo serviu como uma chamada de atenção..."reparem, estou aqui.... Ana consegues ver-me?"

Finalmente a amizade... que tanto tem de bom, como por vezes de perverso...

aiii este comentario já vai longo... lindo como juntaste tantos temas que dão pano para mangas.

Vou confessar uma coisa, passo por aqui muitas vezes, mas quando vejo um texto tão grande, e por vezes sinto-me tão cansada, que nem tenho coragem para ler... faço por voltar noutro dia. Espero que não leves a mal lollll :)

parabens e um beijo!

quarta-feira, março 07, 2007  
Blogger Alexandre said...

Isabel,

achei fantástico aquele blog que me indicaste e o outro que ela tb tem. E fez-te uma homenagem muito interessante. Sabes que os melhores elogios que nos podem fazer são os que vêm daqueles que nós não conhecemos...

Inclino-me para que seja ribatejana... aliás, tenho quase a certeza.

Beijinhos, quando arranjar os meus links vou inclui-la tb. Obrigado.

quarta-feira, março 07, 2007  
Blogger A. Pinto Correia said...

Continuas a expressar-te muitissimo bem.
Abraço

quarta-feira, março 07, 2007  
Blogger DairHilail said...

Vou passando, no meio da minha luta...gostei do que li...adoro ler...adoro sentir o pulsar de outros corações, de outras emoções...sou mulher, e sou guerreira...volto para a minha luta...
Fica bem!

quarta-feira, março 07, 2007  
Blogger Elsa Sequeira said...

Olá Querida Isabel!!!

venho agradecer-te o carinho do poema que me deixas-te! Achei lindo aquele poema ter-te feito lembrado de mim! Ès uma querida!!!
Muita força pa ti!
Beijinhos do coração!
:)

quinta-feira, março 08, 2007  
Blogger bettips said...

Isabel
Obrigado pela aventura de viveres e nos contares o que os teus olhos pensam, pensativos de tanto pensar...
Abraço na MULHER linda que és!

quinta-feira, março 08, 2007  
Blogger bettips said...

Mas tu acreditas que escrevi ANTES de ver a foto do teu perfil? Acreditas? E vi! E tinhas os tais olhos, abertos para a luz... Como sabia eu?

quinta-feira, março 08, 2007  
Blogger Luiz Carlos Reis said...

" Tenha um ótimo e magnífico dia"
Afinal todo dia é especial, mas hoje foi dedicado especialmente à vocês lindas mulheres maravilhosas!

Abraços! E uma Flôr!!!

quinta-feira, março 08, 2007  
Blogger o alquimista said...

Passei para te deixar um beijinho...

quinta-feira, março 08, 2007  
Blogger Alexandre said...

Olá, parabéns por este dia!

Tens uma rosa e um pequeno poema no meu blog também para ti!!!

Beijinhos!!!!

quinta-feira, março 08, 2007  
Blogger InConfidências said...

Nós mulheres com o nosso dom de amor, nossa força interior, a sensibilidade na alma. Somos guerreiras no dia a dia, conciliando dever com prazer e tristeza com alegria. Que hoje, sejamos reconhecidas de como somos especiais todos os dias.

Parabéns Isabel!!!

quinta-feira, março 08, 2007  
Blogger bettips said...

Benditas vós, mulheres ternas. Beijo amigo

quinta-feira, março 08, 2007  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Querida Isabel


A minha mensagem escrita “à minha maneira”______nos sentires que eu traduzo_________na palavra.


Um grito selvagem________a mulher cantou
deliciou e não assustou a vasta plateia________que a admirou
nas mãos________cordas de nós feitos______escondidos
e falsos sorrisos_________aplaudiram

tenha o peito cingido por uma écharpe de seda
todo o seu corpo estava preso nas malhas ______de um belo vestido
bem medido.cuidado.civilizado
bailava a plena liberdade _________ em seus olhos
o que as malhas não tinham força para prender
e se soltou das grades_______________a voz


FELIZ DIA! QUE TODOS OS DIAS SEJAM DIAS DA MULHER!

Beijo com muito carinho

quinta-feira, março 08, 2007  
Blogger Alexandre said...

Olá de novo,

«Desta mulher trintona quase a chegar aos quarenta, ainda bonitinha, tentando manter-se assim pró magra, mulher, filha, amante, com alguma esperança, que muitas vezes se cansa e muito, que não desaba, nem acaba e ainda assim está em constante recomeço, por vezes sofrida,sentida, quase sempre erguida, com muita ternura, por vezes cristal, de romance transbordante,em nada ideal, quase sempre mulher normal sempre sempre, mulher inteira e total...»

repesquei a tua adaptação às minhas palavras... nunca nenhuma mulher tinha feito isso... acho que fiquei a conhecer-te um pouco melhor e a reconfirmar aquilo que já intui: que és uma excelente pessoa, uma grande MULHER!

Beijinhos!!!

quinta-feira, março 08, 2007  
Blogger Cris said...

Beijinhos e bom fim de semana

Cris

sexta-feira, março 09, 2007  
Blogger Estranha pessoa esta said...

Vim encostar-me ao som do piano... sei que não te importas!

Se entretanto adormecer, não me acordes.

sexta-feira, março 09, 2007  
Blogger Estranha pessoa esta said...

Alex,

Não sei se a Ribatejana que te referes se sou eu.

Caso seja.. olha, não sou! eheh

:P

Já devias saber que sou Estranha! E nem tudo o que é certo, certo é! ;)

Abraço grande para ti :)

P.S.: ( e partindo do princípio que te estavas a referir a mim) Se não sou Ribatejana, sou o quê? ehehe

Dou uma dica:
É perto do Tejo, perto mar, perto do campo, perto do nada... e longe de tudo! :)

sexta-feira, março 09, 2007  
Blogger Estranha pessoa esta said...

Isabel,

Que sonoro estranho tens aqui hoje...
Mas, estranhamente envolvente...

Agressivo como mandam as emoções!

Volto depois...

Abraço de Aorta para ti **

sexta-feira, março 09, 2007  
Blogger Isabel said...

O som é Kruder & Dorfmeister e eu adoro.

sexta-feira, março 09, 2007  
Blogger Estranha pessoa esta said...

Isabel,

Não consigo encontrar este sonoro
:(

Queria pedir (caso não te importes) que me envies para o e-mail esta música.
E a outra do piano também...
É que gostei mesmo!

Ahhh e vou fazer como alguém (que li ontem, e já não sei quem)... imprimir os teus textos.
Eu gosto de ler este 'tipo' de linhas e entrelinhas na rua e quando me apetecer e de preferência num entardecer.
:)

Não ligo é a impressora vai para séculos ehehe tenho que ir ver se aquela relíquia informática ainda funciona :P

Que tenhas um fim de semana de doces entardeceres .

Abraço grande para ti bem daqui de mim.

sábado, março 10, 2007  
Blogger Defensor said...

Saudações
O branco dos hospitais me arrepia... prefiro a cor da noite.
Abraços

segunda-feira, março 19, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Olá Isabel,
Estive...
Admirei muito seu Espaço!
Parabéns!

Saudações

domingo, março 25, 2007  
Anonymous Anónimo said...

As coisas pelo nome

Eu não sou o meu nome. Eu sou o teu nome escrito do avesso. Eu sou o meu nome encostado à tua cabeça. O meu nome que foge de mim. O teu nome e o meu nome atados com cordas. O teu nome sou eu quando me debruço por cima do teu ombro. O meu nome a fazer uma pirueta. O meu nome a cair lentamente sobre a tua cama estreita de mulher. O teu nome dentro da minha boca. Sou eu a pedir-te que repitas o meu nome, sussurro a sussurro, letra a letra. Sou eu a dizer o teu nome que trago debaixo da língua. O teu nome no meu sexo estampado. O meu nome no teu sexo estrela. O meu nome é um sexo levantado. O meu nome é uma carícia que me fazes por cima da minha cicatriz. O meu nome é a cicatriz a meio do teu corpo. O meu nome plana por cima das planícies em busca do teu nome. O meu nome cai a pique junto ao teu nome. Nunca digas o meu nome. O meu nome não existe. Não vem em nenhuma página escrita. O meu nome é um cifra escrita a verde ultramarino. Verde ultramarino é a cor de que mais gostam os nossos nomes. O meu nome sobre o teu nome. O teu nome sobre o meu nome. Os nomes muito perto. Os nomes muitos. Os nomes exaltados. O meu nome em cadência lenta. O meu nome é forte como um bicho selvagem. Os nossos nomes percorrem as paisagens como cavalos endoidecidos. Quem diz o meu nome diz amor, qualquer coisa aflita. Quem diz o teu nome deseja ser atingido por um raio, elevado aos céus. O meu nome por dentro do teu nome. O teu nome a pedir perdão por tudo. O meu nome, o teu nome, agarrados por cordas, a cair num precipício. Os nossos nomes são coisas que se comem por dentro. As coisas pelos nossos nomes são aves sagradas. Nome a nome, coisa a coisa. O sol morre dentro do meu nome, na minha boca. O teu nome abriga numa mão fechada o que resta do meu nome. Nomes muito belos. Um nome sem nome. Um nome inefável, inomável. Um nome que ninguém conhece. Só o teu nome sabe o meu nome de cor. O meu nome a subir pelo teu. O teu nome repete o meu nome, nome a nome, sílaba a sílaba. As coisas pelos seus nomes. Os nomes pelas suas coisas. Cada coisa com seu nome, o nome sem fim. Cada nome com sua coisa. O nome do nome no umbigo do mundo.

domingo, maio 27, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Os nossos nomes somos nós. Diz ela.
Os nossos nomes têm-nos a nós dentro. Diz ela.
Eu estou dentro do meu nome. Diz ela.
O meu nome não me foge. Diz ela.
O meu nome fica comigo. Diz ela.
O meu nome fica onde o ponho. Diz ela.
O meu nome vai onde o deixo. Diz ela.
O meu nome vai e volta para mim. Diz ela.
O meu nome não me foge. Diz ela.
O meu nome não me foge, alarga-se à boca que sabe dizê-lo. Diz ela
O teu nome não me foge. Diz ela.
O teu nome não me foge porque nunca o disse. Diz ela.
O teu nome é nome sagrado. Diz ela.
Como o meu nome. Diz ela.
Como todos os nomes. Diz ela.
Como todas as coisas. Diz ela.
Mas o teu nome não é coisa. Diz ela.
Não me foge, o teu nome, porque nunca to disse. Diz ela.
Um dia talvez o diga. Diz ela.
Quando disseres o meu. Diz ela.
Quando o disseres baixinho só para mim. Diz ela
Quando o gritares só a mim. Diz ela.
Os nossos nomes somos nós. Diz ela.
Em cada nome existe um de nós. Diz ela.
Cada um de nós é diferente do outro. Diz ela.
Devias saber isso. Diz ela.
Lia não é igual a Bia. Afirma ela.
Ana não é igual a Luísa. Volta a afirmar.
Nem tudo o que parece igual o é. Sorri.
Quase nunca o é. Sorri de novo
Devias saber isso. Volta a sorrir.
O que é diferente não deve ser tratado como igual. Diz ela.
O que é privado não deve ser público. Diz ela.
24 não é igual a 40. Diz ela.
Medo não é igual a coragem. Diz ela.
As palavras são sagradas. Diz ela.
Chora e ajoelha.
Os nossos nomes somos nós. Repete ela.
Não há a mesma mulher em cada mulher. Diz ela.
Troca a tua vida com a minha. Diz ela.
Troca a tua morte com a minha. Diz ela.
Vamos brincar às vidas e às mortes. Sugeriu ela.
Queres? Perguntou ela.
Vamos brincar à morte das palavras? Sugeriu ela.
Pior que não dizer nada é repetir-se o que se diz. Diz ela.
Antes o silêncio. Diz ela
Antes chorar o silêncio. Diz ela.
Porquê palavras iguais para o que é diferente? Pergunta ela.
Cada nome é um nome. Diz ela.
Cada pessoa é uma pessoa. Diz ela
Cada coisa com seu nome. Diz ela.
Cada pessoa com seu nome. Diz ela.
Cada coisa diferente de cada pessoa. Diz ela.
Cada nome diferente de outro nome. Diz ela.
Vamos brincar às palavras. Desafia ela.
Vamos brincar às palavras sem brincar com as palavras. Diz ela.
Vamos brincar aos nomes das palavras. Diz ela.
Vamos brincar às mortes. Desafia ela.
Vamos matar o significado das palavras brincando. Brinca ela séria.
Vamos homenageá-las brincando. Diz ela.
Vamos enganar-nos brincando. Diz ela.
Vamos cobardemente ser mais cobardes ainda brincando. Diz ela.
Vamos esconder-nos em brincadeiras para não sermos os nossos nomes. Diz ela.
Vamos matar-nos? Queres? Pergunta ela.
Ou vamos assassinar palavras? Qual preferes? Pergunta ela.
Seja a que for sem show. Diz ela.
Corre as cortinas. Diz ela.
Eu corri as minhas. Diz ela.
O bafo da loba agora é directamente sobre ti. Diz ela.
Sobre ti apenas. Diz ela.
Queres brincar aos animais selvagens? Pergunta ela.
Diz o meu nome. Diz ela.
Baixinho. Ordena ela.
Tão baixo que apenas eu consiga ouvir. Diz ela.
O teu nome não existe. Diz ela.
O teu nome não existe porque nunca o disse. Diz ela.
O teu nome só existe quando o meu nome disser o teu. Diz ela.
O meu nome só dirá baixinho o teu quando disseres baixinho o meu. Diz ela.
Baixinho. Ordena ela.
as palavras não deviam ser desafios. Diz ela.
Sabes fazer as palavras dançar? pergunta ela.
Ele diz que sim. Imóvel e calado.
Ela guardou o nome e ficou à espera.
Cada nome tem uma pessoa. Pensou ela.
Cada pessoa tem um nome. Pensou ela.
E ficou agarrada a um nome esperando por outro.

segunda-feira, maio 28, 2007  

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