sexta-feira, setembro 01, 2006

Que te fizemos PORTUGAL ?

Portugal o que és tu agora...
Que te fizemos?
No que te tornaste?
Há tanto amor na minha voz ao pronunciar teu nome
e tanta dor causa olhar para ti
Amo-te porque sou tua filha
Amo-te porque não tens culpa
Eu tenho culpa
todos nós teus filhos sem excepção somos os culpados
nós, os nossos antepassados, e aqueles que estamos a criar
todos somos culpados
e não há desculpa para o que te fizemos
ridiculos na nossa ignorância,
estúpidos sem escrúpulos no nosso servilismo,
orgulhosamente descrentes de tudo,
vamos destuindo aos poucos
disfarçando a escuridão e a secura
com cada vez mais espectáculos de luz e som,
com mais futebol e com o povo aplaudindo nas suas roupas coloridas,
com cada vez mais edifícios modernos e com novos estádios desportivos,
com cada vez mais Centros Comerciais, cada vez maiores e melhores
vamos disfarçando as cada vez menos fábricas, cada vez mais pequenas , cada vez piores
Portugal que escondes tu?
Não escondas o que te fizemos
Pede que deixemos de fazer exige que reparemos o mal já feito
sopra sobre nós ventos de ira
e faz-nos pedir perdão para o que perdão não há,
queima-nos no fogo das tuas matas
e faz arder a nossa inconsciência,
não nos perdoes
Castiga
Castiga até que como maus filhos que temos sido
aprendamos a lição
depois, só depois podes de novo sentar-nos no teu colo
e passar a tua mão cansada e tremula nos nossos cabelos
e chamar-nos teus filhos...

Escrito por mim , triste e zangada comigo mesma depois de ver as fotografias que se seguem...


Uma Arte chamada Fome
Fotografia de Zé Pedro


Alguma esmola resolve isto?

Imagem de solidão e desamparo

Fotografia de Carlos Romeira

E isto como se resolve?
Numa instituição?
Na sopa dos pobres?
Na MORTE?

Imagem do desespero

Fotografia de Raul Alexandre

Que Centro de Emprego o vai ajudar?
Onde estão os amigos?
A solidariedade humana onde ficou?


Em todas elas estava apenas um fotógrafo...

E aqui, aqui estava Portugal inteiro...

Fotografia de IEAI


As Mulheres todas de Portugal coloridas envergando as cores da nossa bandeira
Os homens todos assistindo orgulhosos do contributo de suas patrióticas fêmeas mara o estimulo á nossa selecção...
Tão orgulhosos e distraidos andamos com tantas palmas tantas cores que esquecemos tudo o resto...
É bonito claro que é bonito...
Traz dinheiro para o país e isso é bom, claro que é...
Mas gastamos como?
Com mais um estádio?
Mais um Centro Comercial?
O que sobra para o resto?
Para os miudos com fome, os velhos sem familia, sem casa, sem medicamentos, sem agasalho, os homens e mulheres sem emprego, sem saúde, sem dinheiro, sem comida, sem instrução, sem segurança social, sem nada...
Para esses sobra...
Esmolas
Pena
Vergonha
Beijos em época de eleições
Bolo Rei no Natal
e promessas que eles desconhecem porque não veem televisão
Andamos cegos para a realidade!
Ávidos de espectáculo!
Tornamo-nos todos actores...
E tu Portugal...
És apenas o palco que pisamos e serve para esta representação...
Que feche o pano.
Já chega!
Vamos parar enquanto o céu ainda é azul e Portugal ainda sabe a amoras bravas...
As amoras

O meu país sabe a amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.

Eugénio de Andrade, O outro nome da Terra

1 Comments:

Blogger DE-PROPOSITO said...

O texto não é para comentar, é para meditar.
E fico por aqui.
Fica bem.
Manuel

sábado, setembro 02, 2006  

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