quarta-feira, agosto 30, 2006

A todos os gatos e à minha gata em especial

Gato
(Alexandre O'Neill)

Que fazes por aqui, ó gato?
Que ambiguidade vens explorar?
Senhor de ti, avanças, cauto,
meio agastado e sempre a disfarçar
o que afinal não tens e eu te empresto,
ó gato, pesadelo lento e lesto,
fofo no pêlo, frio no olhar!

De que obscura força és a morada?
Qual o crime de que foste testemunha?
Que deus te deu a repentina unha
que rubrica esta mão, aquela cara?
Gato, cúmplice de um medo
ainda sem palavras, sem enredos,
quem somos nós, teus donos ou teus servos?

A foto mais parecida que encontrei com a minha Julieta

Tenho uma gata chamada Julieta, está comigo desde bébé por isso é muito parecida comigo, nas qualidades e nos defeitos.
É vaidosa, teimosa, desobediente,ciumenta, egoista, faz birras e amua, é preguiçosa e dorminhoca ... mas é esperta, inteligente, faz asneiras e tenta disfarçar com uma graça especial que é só dela, é matreira de uma forma tão cómica que é impossivel não rir, é doce e meiga, é amiga e sabe demonstrar que o é, adora mimos e companhia, é independente e por vezes quer que a deixem sozinha, adora fiambre, sol, espreitar à janela, ver-me tomar banho, adora as minhas malas, a minha roupa, as flores de todas as cores que custumo usar ao peito, as joias e a bijuteria, acha que o sofá pequeno é dela e só gosta de o partilhar com alguns , muito poucos, por sorte eu e o Miguel fazemos parte desse grupo restrito, gosta mais de homens que de mulheres, gosta de brincadeira quando não tem sono, gosta de se esconder e que andem à procura dela, gosta que falem dela e a façam sentir que é importante.
A minha gata tem a melhor das qualidades: Adora-me
E eu adoro-a e não consigo imaginar como será estar sem a sua presença.
A minha gata faz-me sorrir só de a abservar...
Comove-me quando me olha nos olhos e sinto o quanto gosta de mim...
A minha gata é sábia
A minha gata sabe voar
A minha gata um dia pode ter de me ensinar que na vida não podemos nunca parar de voar...
Para a Julieta um pouquinho desse livro cheio de encanto de Luis Sepúlveda chamado: "HISTÓRIA DE UMA GAIVOTA E DO GATO QUE A ENSINOU A VOAR"

"- Voa! – miou Zorbas estendendo uma pata e tocando-lhe ao de leve. Ditosa desapareceu da sua vista, e o humano e o gato temeram o pior. Caíra como uma pedra. Com a respiração em suspenso assomaram as cabeças por cima do varandim, e viram-na então batendo as asas, sobrevoando o parque de estacionamento, e depois seguiram-lhe o voo até às alturas, até mais para além do cata-vento de ouro que coroava a singular beleza de São Miguel. Ditosa voava solitária na noite de Hamburgo. Afastava-se batendo as asas energicamente até se elevar sobre as gruas do porto, sobre os mastros dos barcos, e depois regressava planando, rodando uma e outra vez em torno do campanário da igreja.- Estou a voar! Zorbas! Sei voar! – grasnava ela, eufórica, lá da vastidão do céu cinzento.O humano acariciou o lombo do gato.- Bem, gato, conseguimos – disse ele suspirando.- Sim, à beira do vazio compreendeu o mais importante – miou Zorbas.- Ah, sim? E o que é que ela compreendeu? – perguntou o humano.- Que só voa quem se atreve a fazê-lo – miou Zorbas.- Suponho que agora te estorva a minha companhia. Espero-te lá em baixo – despediu-se o humano. Zorbas permaneceu ali a contemplá-la, até que não soube se foram as gotas de chuva ou as lágrimas que lhe embaciaram os olhos amarelos de gato grande, preto e gordo, de gato bom, de gato nobre, de gato do porto.

"HISTÓRIA DE UMA GAIVOTA E DO GATO QUE A ENSINOU A VOAR"

Luis Sepúlveda