quinta-feira, agosto 24, 2006

Ruy Belo tambem escreveu para mim...

Ruy Belo

«Escrevo como vivo, como amo, destruindo-me. Suicido-me nas palavras.»

fotografia de Teresa Belo

Estudos de Direito, iniciados em Coimbra e concluídos em Lisboa. Entra em 1951 para a Opus Dei, que abandonará mais tarde. Doutora-se em Direito Canónico, em Roma, regressando a Lisboa em 1958. Tira o curso de Filologia Românica entre 1961 e 1967. Em 1971 vai para Madrid como leitor de Português, regressando em 1977 para dar aulas no ensino secundário no ano que precede a sua morte. Foi chefe da redacção da revista Rumo. Ruy Belo traz à poesia portuguesa uma respiração rítmica que, mais do que da inspiração bíblica (a forma do salmo ou do versículo), visível no seu primeiro livro e, subterraneamente, nos seguintes, lhe vem do pano de fundo "filosófico" à luz do qual se projecta o universo imaginário do poeta. Não se trata de filosofia no sentido abstracto, teórico, do termo, mas na linha de uma fenomenologia que determina a passagem de cada dado particular de existência, culminando com o próprio facto da condição humana do poeta - que desse modo se vai expor até ao limite "dramático", ou trágico, da sua vida -, a sintoma de um absoluto que as palavras procuram traduzir. Daqui decorre que tanto se possa falar do jogo do pião, de heróis do efémero real (José Maria Nicolau, Marilyn Monroe) ou mítico (Billy the Kid), como de pintura, da passagem das estações, do amor e da morte. Todos estes temas são, finalmente, a expressão de um relacionamento único, na sua natureza, do poeta com o tempo e com a linguagem que o procura exorcizar, no que ele tem de relativo, conferindo ao ser essa duração - e dureza - da pedra (da estátua) susceptível de um desafio ao destino, emblematizado, entre outros, no exemplo de Pedro e Inês de A Margem da Alegria.

Já concluiram que gosto muito de poesia, tambem já devem ter percebido que gosto particularmente de Ruy Belo, vou com toda a certeza transcrever muitos poemas dele para este blog, e imagino que vá falar muito sobre ele e teçer-lhe os maiores elogios...

O meu nome é Helena Isabel, muitos amigos me tratam por Helena, Lenita e.t.c. e não por Isabel.

Acontece que hoje, ao mesmo tempo que descobri o poema dedicado a Marylin, descobri um dedicado a mim ( e a todas as Helenas, pronto...! ) .
O poema tem o nome : To helena e inventa um novo advérbio helenamente
Uau... como é que este poeta que eu adoro me faz sentir, depois de morto ( se é que se pode estar morto de facto na companhia da bela Marylin), que escreveu um dia para mim?
Outra boa surpresa hoje...
Cá vai...
To Helena
Acabo de inventar um novo advérbio: helenamente
A maneira mais triste de se estar contente
a de estar mais sozinho em meio de mais gente
de mais tarde saber alguma coisa antecipadamente
Emotiva atitude de quem age friamente
inalterável forma de se ser sempre diferente
maneira mais complexa de viver mais simplesmente
de ser-se o mesmo sempre e ser surpreendente
de estar num sítio tanto mais se mais ausente
e mais ausente estar se mais presente
de mais perto se estar se mais distante
de sentir mais o frio em tempo quente
O modo mais saudável de se estar doente
de se ser verdadeiro e revelar-se que se mente
de mentir muito verdadeiramente
de dizer a verdade falsamente
de se mostrar profundo superficialmente
de ser-se o mais real sendo aparente
de menos agredir mais agressivamente
de ser-se singular se mais corrente
e mais contraditório quanto mais coerente
A via enviesada para ir-se em frente
a treda actuação de quem actua lealmente
e é tão impassível como comovente
O modo mais precário de ser mais permanente
de tentar tanto mais quanto menos se tente
de ser pacífico e ao mesmo tempo combatente
de estar mais no passado se mais no presente
de ser tão insensível como quem mais sente
de melhor se curvar se altivamentede
perder a cabeça mas serenamentede
tudo perdoar e todos justiçar dente por dente
de tanto desistir e de ser tão constante
de articular melhor sendo menos fluente
e fazer maior mal quando se está mais inocente
É sob aspecto frágil revelar-se resistente
é para interessar-se ser indiferente
Quando helena recusa é que consente
se tão pouco perdoa é por ser indulgente
baixa os olhos se quer ser insolente
Ninguém é tão inconscientemente consciente
tão inconsequentemente consequente
Se em tantos dons abunda é por ser indigente
e só convence assim por não ser muito convincente
e melhor fundamenta o mais insubsistente
Acabo de inventar um novo advérbio: helenamente
O mar a terra o fumo a pedra simultaneamente
Ruy Belo

1 Comments:

Blogger Tebus said...

Nao deixes de transpor todo o poema se queres de facto dar a conhecer a Obra do Poeta. Falta versos na tua adicao!

segunda-feira, julho 26, 2010  

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