Histórias de aprender e encantar
Imaginem só que tinha um pai e uma mãe que a adoravam, e ainda tinha uma madrasta boa e um padrasto bom que também a adoravam.
Dizia muitas vezes:
Deitada na sua cama que era um mundo
fez do tecto um céu profundo
salpicou-o de brilhantes estrelas
ali sonhando as histórias mais belas
imaginando tanto que a imaginar pintava telas
Via longínquos reinos encantados
por lindas e floridas paisagens rodeados
via princesas com longos vestidos de cetim
lindas flores, lindas salas, lindos vestidos
via um mundo de beleza sem fim
Por vezes um mostro ou uma bruxa malvada
seus sonhos vinham perturbar
nada que a bondade de uma linda fada
não fizesse de novo o reino encantar
Nos seus sonhos de menina linda
o amor é sempre o vencedor
É sempre em beleza que a história finda
com príncipe e princesa perdidos de amor.
E foram felizes para a eternidade
assim deve a história terminar
assim deve ser a felicidade
dois seres que vivem para amar.
Num lindo dia de sol a Carolina passeava pelo jardim perto de uma das suas duas casas, e encontrou sentada junto de um pequeno lago artificial uma linda princesa, olhando os peixes que eram enormes e muito coloridos.
Abrandou o passo cheia de curiosidade ,andava e disfarçando ia olhando a bela princesa.
- Olha, miúda!
- Sim tu, estou-te a chamar.
- Vem aqui por favor.
A menina nem pensou duas vezes.
Uau! Era um sonho a tornar-se realidade!
Demais!
Espectácular!
A princesa está a chamar por mim.
Ai, quando eu contar isto às minhas amigas, vão-se passar!
- Olá. Disse a princesa.
- Explica-me uma coisa miúda, porque é que estes peixes são tão grandes?
- Lá de onde eu venho os peixes deste género vivem nos lagos e nos riachos e são muito mais pequeninos.
-Pois respondeu a Carolina, mas aqui nas cidades não há lagos naturais, percebes?
E então para ficar mais bonito constroem estes para nós os meninos podermos ver os peixes.
- Ah, já percebi para vocês verem de forma artificial como é a beleza natural, certo?
- Pois. Pois é isso, mais ou menos! Disse a Carolina um pouco desiludida.
-E então porque é que os peixes são muito maiores do que lá no meu reino?
-Bom, é que estes comem muito desta comida às bolinhas que vendem ali, estás a ver?
Acho que os senhores aqui do jardim, para arranjarem dinheiro tem de vender estas coisas e como os meninos gostam de ficar muito tempo com os peixes acabam também por lhes dar muita comida, dão muita o dia todo, percebes?
Por isso é que eles estão assim tão grandes e gordos. Explicou com muito jeito a menina Carolina
- Sabes, acho as coisas aqui muito estranhas. Disse a princesa com alguma tristeza.
Quando vim para aqui vi muitos pobres com fome.
E mesmo aqui no jardim, vejo velhinhos sentados sozinhos, e talvez também tenham fome.
Os peixes assim coloridos lá no meu reino são só para admirar. Como vivem em lagos naturais comem o que a natureza lhes dá e a natureza quando está bem, quando não está doente dá na medida certa sabias?
Porque é que aqui não ensinam os meninos a admirarem os peixes. A fazer companhia a estes velhinhos sozinhos e com tantas histórias para contar.
E a dar comida aos pobres.
Parece que aqui, onde tu vives, está tudo ao contrário!
Sabes miúda, isto aqui até não é feio mas esta tudo de pernas para o ar.
Se eu pudesse dar um nome a este reino chamava-lhe “Reino de pernas para o ar”.
A princesa riu-se mas o seu riso era meio trocista meio triste.
A menina Carolina riu também.
- Estamos a rir mas isto não tem muita graça pois não? Perguntou meio sem jeito, a Carolina.
-Não, não tem.
Há tantas coisas pequeninas, que até as crianças podiam fazer, se os adultos olhassem para o outro lado da vida e ensinassem as crianças a fazer o mesmo.
- Foi isso que vieste aqui fazer?
-Não vim ver como eram as coisas aqui…
-Vim brincar.
-Mas vi isto e não fui capaz.
Não é?
-Nunca tinha pensado nisso, mas acho que sim. Respondeu a menina.
-Sabes hoje aprendi uma coisa contigo, Princesa.
-A sério miúda?
-Diz lá?
-Aprendi que o mais fixe nos contos de encantar não são os vestidos, nem os príncipes, nem as princesas, nem os salões muito ricos.
O mais fixe, o mais bonito é que as coisas estão certas. A natureza está feliz, porque o homem não estraga o que é natural. Os velhos não estão sozinhos porque as crianças e os adultos curtem ouvir as suas histórias e dão bué valor às coisas que eles sabem da vida. Não há pobres nem gente sem casa e sem nada porque todos são bondosos e se ajudam. Os animais ou estão livres ou estão com os seus donos pois ninguem lhes faz mal nem os abandona, não é?
-É ! É ! Disse a princesa sem palavras de espanto.
E quando aparece alguém maldoso lá no meu reino, damos logo caibo dele!
A Carolina riu às gargalhadas.
-Pois é, devia ser assim também aqui. Disse inconformada.
-Afinal como se chama o teu reino perguntou a princesa?
-Aqui chamamos-lhe país. Este é Portugal. E eu sou a Carolina
-O meu chamasse Naturalia. Disse a princesa com orgulho. e eu sou a Lia.
-Muito bonito!
-Olha vou-me embora, vou falar um bocadinho com aquela velhinha que ali está sozinha.
-Foi muito louco conhecer-te princesa!
Um dia vou lá à Naturalia ter contigo.
-Esta bem, fico à espera! Gritou a princesa, acenando para a menina que se afastava correndo para junto da velhinha.
Passas lá tanto tempo, estou farta de te ver por lá. Pensou a princesa Lia.
Quando no teu quarto olhando o tecto inventas histórias de encantar, tantas vezes é Naturalia que estas a inventar.